Nós cristãos estivemos/estamos vivenciando a Semana Santa.
Amiga escritora Liane Morais convidou-me a ir assistir a encenação
da Paixão de Cristo, peça teatral onde ela também vai atuar
aqui em Laguna, no bairro Cabeçudas.
Acabo de lembrar do livro "O ensaio da paixão" de Cristóvão
Tezza , onde o autor narra acontecimentos do tempo em que um grupo encenava
em Florianópolis, nas areias da lagoa da Conceição, a Paixão
de Cristo.
Isto aconteceu nos anos setenta. Nesta época eu morava lá na terra
de Norma Bruno, a desterrense que sabe escrever exatamente do modo como pronunciam
a fala, os herdeiros de povos ilhéus e litorâneos de Santa Catarina.
A obra do lageano Cristovao Tezza me lembra também o nome de Rio Apa,
o dramaturgo que dirigia os ensaios. Creio que transformado em roteiro e filme,
tal obra traria um retrato muito valioso do Brasil daquela época, de
um teatro transgressor e interessante reflexão acerca das muitas paixões,
ensaiadas e vividas num local onde depois a garotada inventou um esporte chamado
SandBoard.
Na verdade pretendo falar é da índia que vi deitada no banco da
praça.
Antes do carnaval estiveram alguns índios em Laguna, para vender seu
artesanato. Fiz alguns contatos com eles e uma pequena de dois aninhos que vi
em três ou quatro oportunidades me sorria tão bonito que aliviava
o sofrimento que a morte de João Hélio causara ao país.
Estávamos em choque. O sorriso da indiazinha Letícia me aliviava
sempre que a encontrava junto com seu grupo pelas ruas do verão lagunense.
Em uma das oportunidades em que vi os índios, eles estavam na praça
do centro histórico, defronte a Igreja de Santo Antonio.
Notei que uma das mulheres deitara seu corpo lateralmente em um banco.
Quando os cumprimentei a índia cansada fez menção de sentar-se
mas pedi que permanecesse como estava.
Fico me imaginando olhando e vendo o mundo deitada, lateralmente.
Hoje li um artigo que segundo estudos, o estresse é um dos fatores da
obesidade. Adiciono por minha conta que o desconforto, é estressante.
Refiro-me ao desconforto trazido pela sensação de "não
fazer parte".
Aquela mulher índia estava estressada. Por inúmeros motivos.
Talvez não interesse a vocês que já tem seus próprios
cansaços, que eu aponte razões por quê índios se
estressam.
Não importa também para senhoras e homens elegantes se as índias
estão acima do peso. Pessoas esclarecidas lutam contra sua própria
obesidade.E ao final das contas, ninguém encontra tempo para pensar nos
mais frágeis.
A Semana Santa, é para nós cristãos pensarmos nos nossos
pecados.
E pecado não é morrer pelado! Pecado mesmo é a omissão
da nossa cidadania, é nossa resistência em parar um pouco para
pensar.
Usar um pouco do nosso tempo para sentar com nossos amigos e cantar os versos
dos Chicos, dizer orações franciscanas, textos e poemas como fizemos
no 31 de março no Carrossel das Letras, nosso grupo de principiantes
escritores.
Semana Santa é para pensar no sofrimento do próximo que está
vivendo sua via sacra. E o próximo as vezes, é aquele lá
em outro continente.
É para nos recolhermos, refletir e compreender que aquele que nos ofendeu
fez exatamente igual o que talvez um dia já fizemos.
Quem sabe seja esta uma semana boa para deitarmos de lado, no banco da praça
e olhar o mundo do jeito mesmo que ele está.
Sabemos muito bem que o mundo está com a paisagem, as pessoas, as casas,
os veículos etc.,seguindo de forma enviesada em direção
a um absurdo futuro.
Sinto-me aflita. A índia cansou. Até ela!
E você como está se sentindo?
Apesar de qualquer e/ou toda dor, quero repartir com você meu desejo
:
Façamos uma BOA PÁSCOA!