... eu perdi!
Durante o ano de 2006 cliquei quase tudo que me apareceu pela frente.
Desde laranjas pesando três kg, que nasceram na chácara de meus
padrinhos até uma enorme teia de aranha tatuada no braço de um
surfista.
Foram flores, peixes, poentes, feiras, casarios, barcos, etc. Muitos barcos
que encontrei no Museu Nacional do Mar em São Francisco do Sul, aqui
em Santa Catarina.
Fotografei objetos, gente, exposições, bichos, lugares e inclusive
tive a alegria de ver que fotos minhas foram aproveitadas em capas de livros,
e também para ilustrar textos de escritores na internet. Dizem que "fica
feio" babar em público diante da própria obra mas capturei
uma imagem que merece um texto.
Ontem a escritora, poeta e editora Ana Peluso perguntou-me se poderia
Wharolizar tal fotografia. Significa que a talentosa ilustradora gostou
da clicada, a qual num primeiro instante, creio que injustamente batizei de
"TPM de Yemanjá".
Mas conforme dizia, perdi as duas melhores fotos do ano. Naquele momento estava
sem minha máquina, não me conformo! Eram já 21 horas, estava
olhando uma bermuda para presentear o papai noel de casa quando ouvi a aproximação,
o já conhecido som da Banda Carlos Gomes. Esta banda tem mais de 120
anos!
Alguns amigos meus receberam de presente o CD que a Carlos Gomes gravou onde
inclui peças de Chiquinha Gonzaga bem como de outros autores que são
clássicos integrantes em discos de centenárias bandas . A capa
do CD, é uma cena do tricentenário casario lagunense com a banda
passando, de autoria do artista plástico Artur Cook.
Pois lá vinha a alegria desfilando pela rua Raulino Horn! Pedi licença
para a vendedora, não resisti e corri para a porta da loja. Que momento,
mais agradável a olhos e ouvidos! Estavam vestidos de uniforme branco
com uma touca de papai noel . A visão era digna de cinema! Sem exagero
que cena mais doce, gente! Os inúmeros arcos luminosos da decoração
de luzes formava uma abóbada sob a qual movia-se som e graça de
uma banda, igual aquela que Chico Buarque contou (e cantou), "só
Carolina não viu".
Nossa modesta cidade (em termos econômicos) é de por inveja em
muita rica metrópole. Temos a Sociedade Musical União dos Artistas
- a banda mais antiga do Brasil, e a Carlos Gomes que ontem enchia de poesia
a noite lagunense.
O desfile do maestro, dos senhores músicos, dos(as) adolescentes, executando
temas natalinos e desfilando na tranqüilidade da pequena Laguna, era o
que milhões de brasileiros gostariam de curtir. Não tenho dúvida!
Perdoem-me o deslumbramento!
Saí da loja com o presente e mais adiante lá na rua Gustavo Richard,
o Coral Santo Antonio dos Anjos saudava o ADVENTO. Entoava cânticos também
natalinos. Tal Coral também é valioso patrimônio cultural
de nossa terra.
Já o mencionei em outra oportunidade e voltarei a falar sobre ele porque
música é a linguagem universal.
Porque canto de corais é magnífica forma de comunhão!
Não tenho dúvidas de que o fato de eu ter jantado colaborou para
que apreciasse toda a beleza e os valores da terra. Amigos, com a barriga roncando
não há quem tenha ouvidos, nem olhos para a arte!
Acreditar em papai noel? É muito fácil porque é muito fácil
ser lúdico e cultuar folclore com o estômago satisfeito, a roupa
limpa, o chuveiro tépido.
Poesia? Nada mais prioritário na vida! Mas há um porem: os desatinados,
os marginalizados, os necessitados, os ensandecidos pelo desespero de qualquer
ordem, são capazes de produzir a poesia, a arte, mas só é
capaz de reconhecer a importância da obra, de fruir da sua beleza, aquele
que tem as básicas condições da vida digna. E, só
a garantia da cidadania plena pode prover vida digna.
É justo neste ponto que menciono a outra foto fantástica que perdi
por inexplicável esquecimento de recarregar as pilhas da máquina.
Fui convidada para entregar o diploma a uma menina de seis aninhos do pré-escolar
na Creche Padre Augustinho.
Não contive as lágrimas quando perfiladas aquelas pequeninas pessoas,
com túnica e chapéu de formandos cantaram que seríamos
"amigos para sempre" ao público que ali estava. Não
sabia quem era Vitória, a garota de seis anos para quem estava levando
o vestido mais gracioso que havia encontrado. Minha afilhada enfim foi chamada
e lá ficamos ambas fazendo charme ao lado da árvore montada no
local, sendo clicadas pela professora Celeste.
A Creche é muito bem cuidada, por certo leva até as casas daquelas
famílias e principalmente até a percepção daquelas
crianças uma prática diária que favorece a compreensão
da maneira ideal de se começar uma história. A história
pessoal.
E a melhor maneira de se começar um currículo de vida, é
na valorização da aprendizagem, num ambiente limpo, com a pedagogia
amorosa, a segurança, o respeito, a alimentação e os hábitos
de higiene, enfim: Educação.
A equipe de professoras está de parabéns. Faxineiras, cozinheiras,
coordenadora estão de parabéns. Só há uma saída
para os que não tem o suficiente, ainda, para
usufruírem do prazer da música, da poesia, da literatura, da arte:
escola, conhecimento, informação, estudo: EDUCAçÃO.
Só amamos o que conhecemos. Para conhecer há que se ter os meios:
Escola, escola. Educação. EDUCAçÂO.
A foto da banda eu não fiz, e também não fiz a dos formandos
da creche mas foram as cenas mais plenas de poesia e esperança que presenciei
neste 2006.
Agora explicando para vocês sobre a flor (pela qual babei), que encontrei
na praia dia desses, penso que foi resultado de alguma dor de amor. Quem sabe
um agradecimento. Quem sabe pedido de um coração febril. Alguém
levou para ofertar a Yemanjá.
Talvez uma alma, quase morta de amor, talvez uma alma renascida de amor! Yemanjá
devolveu a rosa amarela e eu de joelhos fotografei tão perfeita obra
. É que só de joelhos conseguia pegar a praia, o mar e o céu,
testemunhas junto comigo de tamanho caso amoroso.
Era algo muito marcante o que levou a pessoa a fazer aquela oferenda. Eram flores
e mais flores que as ondas devolveram...quase um quilômetro!
A rosa amarela chamou-me a atenção, pareceu-me no lugar errado,
na hora certa.
Na verdade o lugar estava certo.
Nada é certo ou errado, exatamente.
Sim, e a escritora Ana me perguntava ainda na mensagem de ontem, o que eu havia
descoberto de mais recente sobre o NADA. Respondi a ela que no ano vindouro
pesquisarei mas confessei do perigo de buscas tão nietzschenianas
assim. Depois que me contaram que ele disse que "Deus está morto!"
deixei ali na estante "Ecce Homo" ... vai esperar até que eu
tenha coragem de encarar autor de tamanha repercussão . Nietzsche
não é para qualquer "Fátima de Laguna", quem
sabe com muito mais prévias leituras, eu chegue lá .
Por outro lado, desconfio que o NADA é o que se traduz em determinados
olhares distantes, perplexos e aparentemente não traduzidos que vejo
em certos adultos, em certas crianças e em muitos jovens que encontro
pelas ruas. Posso estar equivocada, e justo nesses olhares estar o TUDO.
Um tudo extremamente fragilizado .
Justo por isto, de preocupante gravidade!