A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Menina Sem Juízo

(Mafabami)

Você, menina, não tem mesmo juízo!
A terra tremeu e rasgou-se. O mar caiu pelas fendas, mas depois voltou e descontrolou-se, varreu os litorais com muita rapidez e violência.

Tantas, tantas crianças caíram dos colos de suas mães, tantas mães, tantos pais tentaram nadar em vão.
Foi lá na Ásia, e bem no Natal! Acho que já ouvi falar de 140 mil!
Fico imaginando todas as pessoas da minha cidade mortas pelo chão e multiplicando isso por quatro vezes.
Tão plenos de vida, homens, mulheres e crianças.
Fome, doenças, cadáveres.
Terror? Ei-lo!
Agora a água de beber está racionada.
A esperança está racionada. A razão está...
Não, não, não. Razão, tino, cabeça, nada disso, nada disso está!
As águas levaram.

Meu Deus, é muito caos, é muito desespero! Há muito, muito, muito medo nos corações dos nossos irmãos asiáticos.
Essas almas, que viram suas crianças, parentes, amigos queridos sendo levados pelo dilúvio impiedoso, estão em completa desordem e... onde estás meu Pai? "Embuçado nos céus"?
Por misericórdia, ouve as vozes da Ásia!

Daur! Daur! Daur! Que falta de juízo, menina!
Você, que já viveu meio século, não tem "miolos" não?
Fico sabendo neste reveillon, que se inscreveu na Cruz Vermelha para ir à Ásia. Justo você, que passou sede, medo, exaustão, e tão bem descreveu em livro o poder de destruição das águas quando fora de seus leitos naturais, nas enchentes da sua Blumenau?
Já observei, tudo o que tem feito, escrito, dito, é verdadeiro. E certa vez você escreveu : "a gente sempre deve seguir o próprio coração".
Siga, escritora Urda Klueger.
Quanto Àquele a quem peço misericórdia, está, por certo, irremediavelmente dentro do seu.

(Janeiro de 2005)

  • Publicado em: 27/01/2005
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