A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Os convites de certos homens

(Mafabami)

Vocês já viram um moço bonito, por certo.

Inclusive na casa de alguns de vocês deve ter algum moço bonito. Deve haver muitos moços bonitos dentro das casas pois vejo tantos pelas ruas. Os moços bonitos estão nas empresas, estão sobre os livros, estão nas passarelas, nos escritórios, nas praias...

Eu mesma sei onde moram meia dúzia de rapazes lindos, estudiosos e trabalhadores. E como são lindos, os meus sobrinhos! E como eles gostam de comprar coisas bonitas! Desde um par de tênis, uma camiseta, um livro, um computador...

Quanta coisa boa e bonita há para se comprar! Quanta tecnologia fantástica!

Os brasileiros inclusive votaram, majoritariamente, neste 23 último, reafirmando seu direito de continuar comprando armas. Para quem tiver dinheiro e tempo livre, atirar ao alvo poderá ser passatempo, quem sabe?

Li vários textos a respeito do SIM e do NÃO ao referendo. Li sobre os gastos com a eleição, sobre as piadas que se criaram, li da inutilidade do referendo. Li, tive acesso a ponderações, desabafos, cartas comoventes, a depoimentos acalorados. De tudo se escreveu. De tudo que me vem a mente, sempre retorno para o moço bonito, retorno sobretudo, para os convites de certos homens, nas matérias lidas.

Nem tudo está perdido!

Não posso desanimar, preciso pensar que mais moços podem ser bonitos como alguns que conheço. Não é nada fácil conhecer rapazes tão bonitos assim de perto como eu conheço aquela meia-dúzia. E saibam vocês que os moços são bonitos porque suas mães os levaram ao pediatra, porque adultos os levaram ao colégio, porque suas avós, suas babás ou professoras lhes contaram histórias enquanto eles desfrutavam de nutritivos lanches. Um moço fica bonito porque muitas, muitas, muitas pessoas se esforçam para torná-lo assim. E principalmente um moço fica bonito quando pode estudar. Foi um desses estudiosos que lecionando no curso de História da Arte, convidou-nos a pesquisar sobre a violência que é histórica e tem como testemunha a arte. Há na história da arte a comprovação de uma cultura da violência em nossa humanidade. Cultivamos, enquanto seres históricos, a constante apologia à guerra, a valentia, ao herói, ao exterminador...

Independente da inutilidade do referendo, das intenções dos que pagaram as campanhas de SIM e NÃO, dos desmandos dos nossos representantes políticos, independente das ordens e desordens econômicas, e sobretudo independente de eu não ser moça e muito menos bonita, digo que não perco as esperanças.

Nem tudo está perdido. Houve dentre minhas leitura pré-referendo, muito convite de certos homens, autores, e dentre esses, até moços bonitos, convocando-me, convidando-me ao SIM. Justificativas ? Simples: enfraqueçamos a cultura da violência! Fortaleçamos, sugeriam esses homens, a cultura da PAZ.

Escritores como Viegas Fernandes da Costa, Francisco Simões, Leonardo Boff, por exemplo, publicaram textos apontando motivos pelo SIM.

Relembrei também um filme de ficção, muito bonito trata-se de " INIMIGO MEU", coisa tipo água com açúcar mas há que se sonhar e, muito interessante a idéia do autor! Jamais esqueci o tal filme!

Neste 24 de outubro parece que acordei mais pesada, cansada, não sei bem identificar o que me ocorre mas o resultado do referendo faz parte destes sentimentos-sensações, por certo.

Antes do referendo, ainda participei de uma missa onde um jovem padre nos disse:

"Quando estiveres em dúvida, quando te sentires frágil, vai para o deserto, e lá, na solidão, no silêncio, encontrarás tuas respostas..." Por sinal, o padre era tão jovem e sua precoce sabedoria aumentava a beleza de sua face.

Nem tudo está perdido!

  • Publicado em: 08/11/2005
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