Quem sou eu caro poeta , para dizer coisas a um escritor da sua estatura?
Ora, isto não importa! Poetas se compreendem, mesmo anões que
tentam dizer coisas a gigantes.
Sua obra é perturbadora e atemporal porque diz do futuro, do passado
e do presente, tudo ao mesmo tempo.
Você dá de relho na gente. Bate pela nossa cara, pelos flancos
e pelo lombo.
Você bate na minha história, no meu sonho, na minha flor.
Diz que por baixo da minha roupa nova, tem um corpo que é podre, quase
podre.
Quase podre é muito pior do que podre. Você incomoda porque diz
de si, de mim, de outrem, d'alhures, daqui, dali e talvez até de Dalí.
Quem sabe até, sua obra diga de nenhures algures porque merda, escarro,
porra e outras coisas mais, serão pó. Dia desses, pó em
otimista perspectiva pois dizem que daqui a pouco, nem pó vai sobrar
neste planeta que violentamos a cada segundo. E o fazemos às gargalhadas,
admitamos.
Aporrinhações ecológicas à parte, você atormenta
o seu leitor e, caso ele sobreviva aos seus maus tratos, perceberá quem
sabe, a ARTE fabulosa, espantosa literatura que você produz.
Na horrenda cena que fotografa, com a palavra que esfaqueia na linguagem destes
malditos poemas e poética singulares, você nos comove. Nos arrebata
enquanto constrange, em estética de difícil acesso.
Por fim você nos põe de joelhos e confessamos: Glauco me faz chorar,
e à seco, com o talento que demonstra em sua obra.
Certa vez ouvi dizer que Vinícius de Morais, na platéia de um
teatro, assistia a um espetáculo onde se apresentava Astor Piazzolla
e lá pelas tantas o poeta brasileiro, não se conteve de tanto
gozo, de tanta maravilha que era ouvir aquele bandônion e (dizem) berrou
: " filho da puta!".
Talvez não me faça clara com o que digo aqui mas suponhamos que
eu tenha sobrevivido ao seu bandônion Glauco. Sou uma senhora distinta
de uma pequenina cidade (dizem), e farei minhas as palavras de Vinícius.