A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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A cineasta que toma chimarrão

(Mafabami)

O frio chegou a Santa Catarina coincidindo com minha visita ao QG onde encontra-se instalada a equipe de Mara Salla para uma produção cinematográfica. A luz natural já escasseava quando nosso carro estacionou na tranqüila São Pedro de Alcântara, vizinha cidade de Florianópolis. A convite da escritora catarinense Urda Klueger, que alem de atuar na fita, é autora do conto que inspirou o roteiro, fui por ela recebida e logo apresentada a cineasta que, abrigada num longo casaco preto, segurava uma cuia de chimarrão. Com as temperaturas baixando, o mate amargo e quentinho tem sabor especial para nos sulistas. Forte e positiva impressão causou-me a figura elegante e delicada da diretora e roteirista Mara Salla. Na condição de tiete e após ter meu pedido aceito, cliquei algumas fotos, e por isto minha preocupação em chegar ao local ainda com alguma luz do dia.

Pude perceber que o entusiasmo da espectadora que há dentro de mim é tão grande quanto o empenho que vi naqueles jovens alunos de cinema da Universidade do Sul de Santa Catarina, os quais através da premiação do TCC de Mara Salla, pelo Ministério da Cultura e Forcine, tem a oportunidade do exercício na profissão que estão abraçando, enquanto estudam.

O Trabalho de Conclusão de Curso- TCC, da formanda Mara Salla, juntamente com mais quatro oriundos de outras Universidades brasileiras, venceu um concurso especial de roteiros cujo prêmio é a chance de transformá-los em fita.

Impossível, não se emocionar com o clima de "fábrica de filme" que havia no local onde estavam alojados todos os técnicos, estudantes, autores e atores do curta metragem. Cada rosto apresentado era um semblante de fé jovial, batalhador, de moças, rapazes e crianças acreditando no projeto-sonho que comungavam. No setor de figurino, notava-se empenho e profissionalismo nas responsáveis,também estudantes da UNISUL enquanto mostravam as roupas que estavam sendo usadas pelo elenco. Na cozinha estudantes de gastronomia preparavam vestidos elegantemente, de acordo com suas tarefas, o jantar para o grupo.

Em meio ao clima de cansaço de fim de tarde, porem com visível afinco, a equipe de técnicos na mesa dos equipamentos de informática junto com Mara Salla, conferia as cenas feitas naquele dia.

Impossível não se preocupar com o futuro dessa gente estudiosa e de talento, que está produzindo "Por Causa do Papai Noel".

Impossível não lembrar, naqueles momentos em que estive com o grupo, das tristes cenas políticas que recentes (embora de há muito contumazes em Brasília), assombram as mentes de brasileiros em geral e de jovens audaciosos em particular.

Enquanto notícias de corrupção e desmandos no poder público, preenchem a imprensa falada e escrita com enredos vergonhosos, pude sentir naquela juventude, a capacidade de gerar algo como "Por causa do Papai Noel".

Esse filme será certamente impregnado de forte teor educativo e terá tudo para encantar crianças e adultos.

Tive a oportunidade ler já há algum tempo, o conto de Urda Klueger "Por causa do Papai Noel" que nas mãos de Mara Salla virou roteiro e filme com o mesmo nome . Pude sentir que o tom maior na história, baseada na vida real da escritora, é o incentivo que faz à leitura, alem das lições de otimismo, fé e poesia que permeiam toda a obra.

Deu para perceber no semblante da jovem cineasta Mara Salla, a preocupação diante da tarefa contudo, seu olhar pleno de vontade, dirigia-se para além das colinas e pastos da paisagem na pequena São Pedro de Alcântara.

Já estava mesmo na hora de se fazerem filmes mensageiros de cultura, capazes de mudar o perfil das expectativas do nosso público. Aguardemos "Por causa do Papai Noel". Confesso-me bastante otimista.Desde já torçamos todos, pelo sucesso da fita!

  • Publicado em: 27/06/2005
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