Para homenagear o gaúcho Mario Quintana pelo centenário de seu
nascimento, a completar-se neste 30 de julho, andava há alguns dias relendo-o
pois desejava sentir o mundo o mais próximo possível, à
maneira do poeta.
Nesta busca fiquei conhecendo poesias e frases, que ainda não havia lido.
Confirmei, de uma vez por todas, que Quintana é mesmo um desses artistas
da palavra e, dele, a gente precisa ter sempre um livro ao alcance das mãos.
Dito pelo próprio autor, a sua obra é sua tradução
fato este que, torna-me mais cativa ao ver transformado em poeta-práxis
esse Mário que embebedou-se de poesia até os derradeiros dias
de sua existência. Ele teve essa coragem, essa determinação.
A sabedoria de Quintana, deixou-nos uma herança de valor imenso porque,
a vida que a um só tempo é fantástica, bela e lúgubre,
foi comentada em verso, traduzida em poética-arte mas, sobretudo feita
confissão grávida de ritmo, graça,e leveza.
Rimou ele, vida com paixão, produziu invejável peça polifônica
que legou a tantos que souberem ouvi-lo, para saborear-lhe as sutilezas de tons.
Sua obra é a relação amorosa que Quintana manteve com o
cotidiano .
Particularmente aprecio no poeta, a herança de equilíbrio que
ele nos deixa, em não ceder ao encantos da loucura quando sabemos que
a sua sensibilidade foi amante fiel, permanente e confessa da rotina e da realidade.
Ele é para mim uma forma de espiritualizada alegria, de fé na
vida. Fabulosa forma poética pois que transmuta para o singelo e doce
o que pode ser mistério ou desatino.
Sou muito suspeita para falar de Mário Quintana, não sirvo pra
isso! Na verdade tenho convicção de que ele é um estilo
de vida a ser adotado. Acredito que Quintana é um curso que todos nós
precisamos fazer para que nos tornemos menos presunçosos, para que aprendamos
mais de nós mesmos, do outro, do amor e do mundo. Com elegância.
Há quem o veja em momentos de surrealismo, outros de simbolismo, etc.,
o certo é que os especialistas sempre tentarão fixa-lo a alguma
corrente literária, afinal o apuro acadêmico existe mesmo para
atribuir e ou, pretensamente, desvendar signos.
Para aqueles com quem se aborreceu, o gaúcho poeta fez versos assim:
"...estou triste porque vocês são burros e feios, e não
morrem nunca..."
Que, aliás, considero atualíssimos, se aplicarmos a certos poderosos
do planeta :
Durante os últimos dias estive, conforme referi-me antes, envolvendo-me
com a obra de Quintana, cheguei mesmo a fazer duas tentativas de escrever-lhe
algo mas, nada me agradava, como também agora, não me sinto satisfeita.
Jamais me sentirei.
Hoje quando conversava com Luiz Carlos Amorim poeta catarinense e como eu, também
apaixonado pela obra de Mário Quintana, nos propusemos a espalhar a idéia
da criação de uma confraria quintaniana!
É isto mesmo, uma confraria! Que tal? Não será esta, uma
maneira de nos embebedarmos do que há do bom e do melhor na poesia brasileira?
Adotado feito sabedoria revestida da linguagem poética, é Mário
Quintana um poeta para ser consumido, testemunhado, no exercício do cotidiano.
Ah! Poeta, se eu soubesse dizer coisas lindas, divertidas e inebriantes como
as que nos dizes quando lemos tua obra! Parabéns, soberano das singelezas!
Construções tais, que só hábeis artífices
sabem erguer!