Mais uma violência sexual contra uma criança foi cometida por um
adulto, por estes dias de início de ano, em cidade próxima. No
último semestre a imprensa publicou três casos na mesma cidade
(um deles com o assassinato da criança).
São alarmantes as variedades de circunstâncias e os relatos dos
criminosos, quando são presos.
São variadas as classes sociais e as idades desses homens que estão
tomados pelas mais estarrecedoras formas de comportamento violento. Absolutamente
desumana e incompreensível a maneira como agem essas criaturas.
Em geral alegam estarem sob efeito de álcool e ou drogas. E há
casos em que agem em conivência com suas desequilibradas companheiras
contra a criança que pode ser filha de ambos ou de um dos dois.
A sociedade está doente. Muito doente. Isto não é novidade
para ninguém.
Há bebês deixados em lixeiras. Há crianças perambulando
pelas ruas tentando abrir veículos (presenciei isto em Laguna). Há
bebês deixados dentro de carros enquanto os pais vão para a balada.
Há o padrasto e o próprio pai que violenta suas crianças.
Há crianças quebrando o vidro do seu carro no sinal, e saindo
correndo com a bolsa que você deixou sobre o banco, como aconteceu com
minha prima em Florianópolis e minha sobrinha em Curitiba.
Há um imenso e generalizado desrespeito pela vida e dignidade da criança,
de um modo geral nas classes empobrecidas, mas nunca soube de tantos casos de
violência sexual contra crianças como nos últimos tempos.
Precisamos curar nossa sociedade ela está com a saúde precária.
Muito doente.
Um adulto que alega estar embriagado para explicar danos físicos e psicológicos
cometidos em forma de violência sexual, a uma garota vizinha de apenas
quatro aninhos, certamente não pensa que será compreendido por
nós.
O que nós podemos admitir é que, indivíduos, fazemos parte
de um mesmo tecido social. Da mesma forma que qualquer organismo vivo, a sociedade
precisa buscar seu equilíbrio como um todo. Sabemos muito bem, se um
pedaço de nós encontra-se necessitado de cuidados todo o corpo
e a mente estarão envolvidos na cura.
Em seu livro lançado no ano passado "Pelos Caminhos da Vida",
a humanista e poeta Vânia Moreira Diniz nos dá um testemunho comentando
caso verídico onde a intensidade das seqüelas requerem tratamento
terapêutico atencioso. Vânia analisa a intensidade dos traumas,
dos malefícios que sobrevém quando uma criança é
vítima da violência sexual.
Vânia Diniz é escritora, humanista e além dos sites na internet
onde divulga textos de sua lavra e inúmeros autores, também co-edita
a revista "Honoris Causa" direcionada para os temas da área
pedagógica.
No conto "Violência na Infância" a escritora Vânia,
nos traz o caso real ocorrido há algumas décadas onde sinais da
insana sociedade, que vemos ficar cada dia pior, já se faziam evidentes .
Não é possível que fiquemos indiferentes ao sofrimento
de seres indefesos como as crianças.
Outros casos, ficcionais talvez, mas reveladores e denunciadores desta brutal
realidade também li em "Como nascem as estrelas" de Cibeles
S.L. Puglisi na Revista Rio Total . O editor e escritor Muller Barone na revista
Palanque Marginal também publicou recentemente um chocante retrato da
violência sexual contra crianças no conto "Um dia como outro
qualquer".
Por certo não teremos como pagar o alto preço a que chegarão
as conseqüências da desatenção para com esses fenômenos
tão freqüentes de homens (principalmente), que estão agindo
bem pior do que feras irracionais.
Lembremos, todos nós temos a ver com tudo o que ocorre na sociedade.
Existem estudiosos, existem pesquisas e existem propostas para que se diminua
consideravelmente a violência sexual contra crianças e a violência
generalizada que se expande pelas festas, pela vida nossa de cada dia.
Precisamos ouvir aqueles que estudam, que vão até as vítimas
e inclusive ao próprio criminoso. Precisamos apoiar as pessoas que apontam
alternativas para uma vida mais digna, mais preventiva dos males que nos espreitam
desde que o mundo é mundo. A questão é levar ao menor índice
possível o número de crimes em geral, e contra as crianças
em particular.
Tudo isto passa por EDUCAçÃO, por CIDADANIA por investimentos
sérios em projetos onde TODOS sejam vistos como parte do mesmo tecido
social que interage com cada um de nós. Projetos que priorizem a segurança,
a integridade física e psicológica das crianças. Impossível
não conseguirmos combater tal barbárie.
Não dá mais para suportar tanta notícia de criança
violentada. Há uma neurose, um drogado, um desocupado, um homem desequilibrado
que perambula a fim de colocar seu ódio, sua agressividade, sua mente
tomada pela droga, contra um menino, ou uma menina. Às vezes é
um maltrapilho, desempregado e as vezes é um aparente bem apessoado homem
que parece decente, monstros disfarçados de gente. As vezes são
sujeitos da periferia que em criança já foram também vítimas
de outrem. E por incrível que pareça, às vezes são
engravatados em carrões, homens ligados a instituições
e ou profissões renomadas.
Isso nos entristece imensamente.
Sofrem as crianças terríveis humilhações e igual
a nós, milhares de pessoas ficam incrédulas com nossa incapacidade
de protegermos nossos pequeninos brasileiros.
Envergonhados e arrasados ficamos todos, por fim.
Uma sociedade deprimida não terá futuro. Uma sociedade que não
se unir na busca da própria cura, condenada estará. Adoecidos
de tristeza nos contaminaremos uns aos outros. Talvez ainda sejamos capazes
de nos assumirmos como viajantes de um mesmo trem, de buscarmos soluções,
de sermos um saudável tecido social. Um organismo inteiro. Vamos curar
nossas vidas?