Crise de identidade! Uma mente em tempestades de dúvidas e inseguranças,
desesperanças...
Quero colo! Seria a insensatez? Seria o excesso de informações
a uma velocidade que ultrapassa o limite de segurança no tráfego
dos neurotransmissores nas bordas da lucidez?!
Ou percepções a meio caminho da verdade, enredadas numa trama
de ouro? Guardaria eu um segredo que, com certeza, pessoas precisam para seguir
o mundo em seu curso?
As pessoas não podem viver assim, de modo tão impulsivo, precipitado,
imediatista.
Mas se tal segredo sei, poderia transmiti-lo?
Ser livre como um pássaro, uma bala, uma flecha, movida pelo desejo -
qual? Impelida por quem? Pra onde? Quem ousaria a façanha de me ajudar
a descobrir? Talvez a invenção, uma visão de dois metros
da sólida realidade, a qual só lida com frustrações,
incompreensão, confusões.
Um tapete mágico adejando sempre com um vácuo de quinhentos quilômetros
de espessura entre mim e outrem. Ninguém sabe. Absorta em pensamentos,
tantas vezes o instinto papagaio torturou-me naquele cantochão monótono,
terrível, insuportável de seres apoderando-se do controle de meu
cérebro e atos.
Terapia. Seria possível de fato adentrar essa minha perdição,
na arte que ali se contém, conhecida do amor, da astúcia, por
meio da qual se forçaria a entrada nessas câmeras secretas interiores?
Teria a habilidade disso suportar e tirar proveito de seu labor? Qual o sabor?
Possuo estrutura para imiscuir-me nessa viagem? Quem saberia? Qual o artifício
para se formar indissoluvelmente um ser inteiro?
Não é bem o conhecimento exatamente ao que anseio, mas a unidade,
a possibilidade de se sentir parte da vida, de uma comunidade.
Insegurança, tristeza, solidão. Por que sou tão insuportável,
ridícula, excêntrica, feia? Por que ninguém gosta de mim
de verdade, em essância? Sem ser por profissionalismo, laço sanguíneo
ou culpa por crenças religiosas? Por que ninguém aceira isso que
entendo como ser eu mesma? Estão sempre querendo ou pensando que sou
algo tão longe do que eu poderia reconhecer como eu!
Triste agora, com imensa vontade de não mais existir, de morrer, de acabar
de vez com essa tragédia de história fracassada que suponho ser
eu a responsável!
Choro, desfalo, pois todas as coisas verdadeiramente mais importantes transcendem
qualquer linguagem de comunicação. Comecei a ler, a estudar línguas
pra tentar aliviar essa imensa dificuldade que tenho de comunicar e nada adianta,
faço tudo errado como sempre. E como dói!
Às vezes tento visualizar meu ser saindo de mim pelo caminho do fim,
et coetera, et coetera. Meu Deus, meu Deus como meus pais puderam ter uma filha
tão incongruente? Desajeitada, sonsa, como a meia furada e os lençóis
do hospital psiquiátrico.
Como poderia um ambiente tão portentoso incutir a necessidade dos cordatos
tirarem, com uma vassoura e pá de lixo, a areia pelo papagaio do cantochão
monótono espalhada onde fosse, e o drama de problemas concentrando-se
quase exclusivamente nas façanhas - interessantes, talvez, por tão
inauditas e animalescas, mas afinal um tanto limitadoras e desgovernantes -
desse pássaro bêbado sem álcool?
Naturalmente, de tudo tenta-se... embalde... no vão resta... E mais areia
dispersando-se, provavelmente de algum espinho no emaranhado do pensamento,
no despeitado impelido pelo desvario do fluxo de areia em corrente, como um
rio, a parar ou descansar, somente, no mar ou faíscas distraídas
de amar...
A fraqueza envergonha, eis a verdade. Demônios perversos, anjos embusteiros,
monstros crescidos! Perda descompensada. Os olhos turvos ao pensar esse azar.