O Modelo Gestáltico surgiu a partir do trabalho do casal Perls, de início
com uma finalidade terapêutica prática focada na cultura dos EUA.
Depois perceberam que precisavam apoiar essa prática sobre uma base filosófica
e observaram que as reflexões e modo de pensar que moviam tal prática
sintonizavam bem com o modelo fenomenológico. O termo Gestalt é
de origem alemã e relaciona-se com forma, configuração
do todo. Refere-se à idéia de que nada é fixo em absoluto
e nada é movimento em absoluto. A idéia preconiza que o todo é
sempre maior que a soma das partes, pois possui o espírito do todo. O
ser humano, para não cair na tentação de se iludir, precisa
estar sempre atento para considerar os dois lados de sua percepção
e não a idealizar ou desqualificar demais. É preciso articular
e organizar as partes sem perder a referência do todo.
O paradoxo existencial corresponde à angústia inerente ao ser
humano provocada por seu alvedrio. O homem possui a atraente capacidade de escolher
o que fazer ou não, mas para toda escolha que faz necessita responsabilizar-se
pela repercussão de suas conseqüências, pois toda liberdade
carrega uma carga de responsabilidade e, por isso, angústia. Por exemplo,
quando um bebê nasce ele é completamente dependente dos cuidados
maternos. À medida que se desenvolve, conquista autonomia e liberdades,
mas também adquire cada vez mais responsabilidades. Um jovem, quando
arruma o primeiro emprego, fica extasiado por sua independência financeira
e pela importância de uma ocupação útil à
sociedade; no entanto, também fica assustado com o peso dessa responsabilidade
e pressão para administrar bem seu salário e sua vida. Uma pessoa
doente perde um pouco de liberdade devido à limitação imposta
pelo distúrbio, porém pode sentir-se aliviada de certa forma por
não precisar preocupar-se com tantos problemas e pressões sociais.
A função social do excesso é a de iludir a pessoa com a
sedução da facilidade de se sentir protegida e garantida, confortada
e acomodada com alguma certeza que não ameaça qualquer risco de
perda justamente por ser excesso, não acaba. Também pode ser visto
pela ponta da falta, excesso de falta. O excesso gera ilusão e vice-versa.
A pessoa está iludida quando toma a parte do conjunto como todo e considera
apenas um lado da relação. Onde há excesso há falta.
Se numa relação há excesso de opressão de um lado,
por outro lado há falta de respeito e consideração. Onde
há muita dominação e coação, falta cooperação,
co-construção e colaboração. Na relação
em que predomina disputa de poder, há excesso de competição
e busca de auto-afirmação; provavelmente também falta auto-referência
e auto-estima, pois o primeiro Outro da pessoa é ela mesma. Se não
se consegue se estimar, como vai querer estimar outra pessoa? A 'política
da certeza' e do excesso na sociedade é favorável a um pequeno
grupo de pessoas, detentora dos meios de comunicação, da maior
parte da riqueza e poder produzidos pela população. Assim, essa
minoria consegue manter a maioria alienada da realidade social e iludida pelas
receitas prontas e fáceis oferecidas na esquina para resolver os seus
problemas.
(Março de 2001)