A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Desabafo

(Tania Montandon)

Sinto-me enojadamente imprestável. Exalo preguiça, meu humor está breu. Preciso atividade, só que é hora de dormir. Sinto-me chata, feia, lerda, cadê minha identidade? E ainda há panacas dizendo que anti-depressivos são pílulas da felicidade... de quem?! Deve ser de quem não toma! A única certeza que tenho é que se eu tivesse alguma droga pesada comigo agora não contaria até três para usá-la... Sou tão instável enquanto no mundo as coisas parecem ser as mesmas. Tudo acontece, porém o sentido é sempre o mesmo, continuar funcionando. Preocupação é besteira transitória engolida e triturada pelo tempo. O objetivo mor é o desapego... material, social, carnal, corporal, emocional, total... utopia!

Penso que as coisas estão todas sempre do mesmo jeito. Não há o que temer. Paradoxalmente, sinto tanto medo... de viver, de morrer, de sofrer... Embalde tento descrever meus sentimentos, a maneira como me percebo viva. Inútil escrita, inútil fala, tão distantes de minha pretensão, faltam códigos linguísticos pro meu relato. Sejam quais palavras eu utilize, parecem pequenas e poucas, imprecisas e mortas, ineptas pro discurso do meu desejo. Que eu caia, por isso, na implosão perfeita do silêncio, que exploda de mim o imperfeito dito, a palavra que me denuncie onde não quero ou nem suporto, contudo que seja expressão deste ente sem outro recurso que o torne humano, seja como for.

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