O tema do trabalho desde suas origens até a concepção considerada
na atualidade envolve uma ampla gama de possíveis reflexões e
considerações. Sabe-se que, como quase todas as descobertas e
invenções humanas tiveram inicialmente as melhores intenções,
as quais, com o decorrer do tempo e conseqüentes distorções
ideológicas, o trabalho também sofreu um processo de nascimento
promissor e utilitário para o individual e o coletivo até surgirem
tentações sofísticas e acomodatícias oriundas da
cultura do "quanto mais esperto melhor" e sua sutil demanda "ganhe
o máximo fazendo o mínimo".
O homem sempre se questionou sobre seu potencial, do virtual ao concreto, e
suas necessidades de avançar em conhecimentos cada vez mais visando à
evolução e tentando ultrapassar seus limites. Desde o início
do que se sabe sobre a humanidade, há sempre uma alusão à
questão do trabalho, com os primeiros conhecimentos gregos e a mitologia
dizendo ser Atenas a potência da técnica ('techné' e 'métis')
e Hefaísto seria o inventor do trabalho pelo fogo como complemento à
potência de Atenas. O mito de Prometeu representou o intermédio
e transferência do pertencimento da invenção das técnicas
dos deuses para o homem, endossado por Dédalo mais tarde. Contudo a história
deixa buracos, dúvidas e paradoxos, com diversas versões muitas
destas contraditórias.
Importante destacar é a inerente busca eterna do ser humano pela criação
pragmática, aperfeiçoamento com vistas à utilidade para
o coletivo, das primeiras comunidades às sociedades contemporâneas.
Do mesmo modo que não há como saber tudo sobre a verdadeira origem
e a história mais correta, outro tipo de buraco também foi criado
concomitantemente a todo o processo. Na maioria das vezes, os motivos encontram-se
na vaidade humana e posterior supervalorização do individualismo
em detrimento do coletivo, acarretando fins cujos meios recorridos pelo homem
feriram os ideais altruístas, éticos e morais.
A ambição, outro fator indispensável a considerar, operou
negativamente a partir da Revolução Industrial e a tentativa de
quase "mecanizar" o trabalho humano objetivando maior rendimento,
produção em massa e lucro. O filme "Tempos Modernos"
com Chaplin apertando parafusos e sendo "usado" pela máquina
mostra claramente um destes buracos que o processo criou junto ao desenvolvimento
do conhecimento e da criação. Com os trabalhadores colocados a
fazer um único serviço repetitivo e alienante, perdia-se a noção
do todo daquilo para o que o homem estava laborando e, junto, a motivação,
saúde e conseqüente sofrimento, sobrecarga e descontentamento da
massa de trabalhadores. Livros como "Germinal" de Zola e "Os
Miseráveis" são obras geniais que ilustram bem esses acontecimentos.
Assim, talvez a questão não seja temer como alguns já fazem
que a máquina chegue a substituir o homem no trabalho. Seria mesmo preciso
estar sempre repensando todo o processo a fim de consertar as lacunas que o
estragam e propiciar reflexões positivas na luta pelo progresso equilibrado
ao limite da Natureza, do homem e da ciência. Nada é perfeito,
porém tudo é passível de mudanças o tempo todo.
Há de se pensar em como dirigir as transformações de maneira
mais construtiva para que o caos possa originar inovações criativas
com sua inerente força e refletir sempre na organização
e reorganização do trabalho, seu uso, custos e benefícios.