Calafrio pavoroso invade o peito, toma conta do sujeito, evoca sensações
terríveis, lembranças indizíveis, com quem posso contar
quando não consigo dizer o que sinto e tudo é tão só
em mim, ninguém mais está passando por isso. Será algo
pior possível? Sempre aprendi imitações, mas descobri que
funcionam cada vez menos, sou tão diferente e distante diante um pavor
com o qual tenho que me haver tão sozinha.
Queria ser um mosquito para que o trabalho gasto para existir fosse menor,
os estragos menores, a cobrança fosse menor. Cada vez que vejo a luz
hoje e o que talvez espera o tempo futuro, desejo pular a janela e voar para
o Outro Mundo, a inconsciência. Mas receio ainda não passar a porta
e ficar aleijada, sofrendo dor nesta mesma bosta de mundo.
Solidão no mais profundo sentido do termo. Tanta gente mexendo e vejo-me
obrigada a roubar remédios para dormir para ver se o sono faz-me companhia.
Só não sei o que ocorreu. Só seu que não dormi e
fiz até o que não me lembro. Como se a vida não fosse minha.
E agora tenho que pegá-la de volta, porque ninguém quer saber
dela. O efeito divertido passa.
Náusea mundana dizendo o desprezo explosivo sentido, vivido, cuspido
em terra do "esperto", corrupto encoberto. Lixo vomitado com odor
de fome, miséria, carência social, fundamental
Tocar é bom se é querido, ou vira tortura. Unir duas produções
químicas divinas misturando as energias e produzindo algo novo, seja
sensação, prazer, sentimento, visão, filho... Sem relação
de toque fica muito autista e inumano, perde fala e significações
variadas. Tocar o ar, o tempo, o espaço no que tem de imaginário,
veleidade singela, contemplação... Tocar o ponto do limite, da
dor, do desamparo é dispensável, dá muito medo.
Fantasia borbulhante, nível infanto - ainda não diz. Quisera
quimera realizasse, que mera veleidade - ingenuidade. Tocaste o cerne do arrepio,
do sensível inaudito, indizível. Mobiliza forças do Mistério,
sente-se levado pelo inferno, caminha cego ao obscuro, imperceptível
empuxo...
Separação transicional tida como permanente motiva desamparo
infinito, embute caos de subalmas. Verdade dita e revista, qual é a referência
do ponto de vista, dependente também é o sentido e significado
das palavras expressas no momento dito da entrevista.
Inferno que sente é gente plangente colhendo migalhas, folguedos de
palha. Espalha boatos, consensos, incenso. Granjeia goiaba e até beterraba.
Na nuvem o céu dos pecados, tolhidos, vendidos, sofridos realces de real
reação. Se lei fora feita, feita fora também a cadeia,
e a cadeia de vícios aprisiona o tolo embargado, embriagado e barbado
.
Brasil quer ordem e progresso, não quero ordem, nem rigidez, imposição,
ditação; quero é organização, articulação,
reflexão, muito longe de perfeição, mas muita movimentação
em direção à evolução, com participação
e determinação. Progresso contínuo é ilusão,
regressões pertencem à trajetória de qualquer evolução
que chegou à conclusão.
Abuso de poder, displicência profissional, língua maioral, orgulho
delinqüente, nem enxerga o que está adjacente.
Confusão de identidades, de personalidades, regressão à
fase oral, dependência e indiferenciação, abandonada à
ilusão...
Correção? Nem tentativa. Desamparo ao lento desgosto do vão...