Existiriam possíveis sentidos metafóricos implicados pelas condutas
consideradas da ordem do sem-sentido?
O sentido da existência para Sartre é angustiante, porque o homem
é separado da compreensão que possui de sua essência por
um nada. Tudo que ele nomeia como isto é na verdade é um tendo
sido, pois tudo que captamos em nossa consciência refere-se a algo que
já passou. O ser humano é através de seus atos. Mas, quando
pensa seus atos para compreendê-los, estes já são atos passados.
Na medida em que consegue captar com precisão somente os atos passados,
considerando que os atos futuros são constituídos de muitas possibilidades,
ele sente angústia.
Agimos antes mesmo de nomearmos nossas possibilidades de ação.
Adotamos escalas de valores no cotidiano para evitar a angústia ética
de ter que lidar com minha relação original com os valores. A
liberdade torna-se angustiante conforme escolho uma determinada forma de valoração
e a tomo como ideal, tornando-me presa a essa forma de valoração.
O que determina a conduta humana, para Sartre, é sua moralidade cotidiana,
sua escala de valores.
A palavra sentido deriva de sentir, o que é relacionado a experimentar,
pressentir, conjeturar. É uma acepção correlacionada a
significado, que é representação, na linguagem, do significante.
Segundo Wittgenstein, se uma proposição não tem sentido,
isso pode ser devido apenas ao fato de não termos dado significado a
uma de suas partes constitutivas, isto é, de não termos estabelecido
a correspondência entre essa parte e um objeto. O significado de uma palavra
é seu uso na linguagem.
Foram os estóicos que fundaram a doutrina da significação.
Diógenes concebe o significado como sendo a coisa indicada pela palavra,
que nós apreendemos ao pensarmos na coisa correspondente. É uma
representação racional, graças à qual é possível
expor por meio de um discurso aquilo que é representado. O significado
da palavra é sua denotação, e o sentido sua conotação.
A conduta humana é especial, pois está intrinsecamente vinculada
ao campo da linguagem. A cada instante somos lançados no mundo e ficamos
comprometidos. Na maior parte do tempo, agimos antes de analisarmos nossas possibilidades,
sendo esta uma estratégia para evitar a angústia decorrente do
ato de escolher.
Como exemplo, vamos supor que o despertador que toca de manhã remete
à possibilidade de ir trabalhar. Mas captar o chamado do despertador
como chamado é levantar-se. O ato de levantar é tranqüilizador
porque evita a pergunta Será que o trabalho é minha possibilidade?
E, em conseqüência, não me deixa captar a possibilidade do
quietismo, da recusa ao trabalho (da morte e da negação do mundo).
Na medida em que apreender o sentido da campainha do despertador já é
ficar de pé ao seu chamado, tal apreensão me protege contra a
angustiante intuição de que sou eu quem confere ao despertador
seu poder de exigir meu despertar.
O sentido da conduta humana, conforme Merleau-Ponty, não é um
elemento adicionado ao puramente sensível por um ato ulterior de pensamento.
O mundo desvinculado da conduta humana, que não está sendo contemplado,
imaginado, pensado, trabalhado, é uma ficção. A aparição
do mundo funde-se com a atividade do homem que nele vive, pois a conduta só
pode ser determinada em termos mundanos, precisando a configuração
do mundo correspondente.
A linguagem nomeia os elementos e características das estruturas percebidas,
enquanto expressa a conduta humana que incide nelas e que as propõe como
meios de seus processos, contribuindo para a constituição de seu
sentido. Por exemplo, quando se diz que um copo d´água é
refrescante, não só constato com esse adjetivo a frescura da água
como a concebo como algo valioso e estimulante.
A significação é pertinente a formas de conduta em que
cada gesto tem um papel que coopera para a realização de uma conduta
total e significa essa mesma totalidade a que pertence.
A palavra é movida pela conduta irradiada do corpo que se expressa e
incide nos objetos de um mundo vivido, ou seja, um mundo, que como campo dessa
conduta, está animado por ela. É um mundo cujos elementos são
meios, fins, causas e obstáculos dessa atividade e que, portanto, possui
a palavra como peça de um vocabulário e de um discurso organizado
sintaticamente.
Enquanto o ser de Sartre é radicalmente solitário em seu ser-para-si,
o de M. Ponty é aberto e explícito. Mesmo que ocorram crises de
convivência na atmosfera de intersubjetividades, não se supõe
em todo caso um isolamento radical próprio de umas mentes fundamentalmente
solitárias. Não se supõe uma incomunicação
insuperável.
Para M. Ponty, a liberdade humana é limitada, pois é exercida
em situações que não são eleitas nem decididas por
opções que operem no vazio.
Diante um poema, uma pintura ou um filme valioso, entra-se em contato com algo,
algo foi adquirido pelos homens, e a obra começa a emitir uma mensagem
ininterrúpida. Mas nem para o artista nem para o público, o sentido
da obra não se pode formular mais que pela obra mesma; nem a inteligência
que a concebeu nem quem a recebe são em absoluto donas de si. Tanto na
obra de arte ou na teoria como nas coisas sensíveis, o sentido é
inseparável do signo. A expressão, então, nunca pode dar-se
por acabada. A mais alta razão é vizinha da desrazão.
Se há necessidade de reencontrar uma moral, como na arte, não
há solução para quem busca assegurar sua marcha e permanecer
justo em todo instante e dono absoluto de si mesmo. Não temos outro recurso
que o movimento espontâneo que nos ata aos demais na desgraça e
na sorte, no egoísmo e na generosidade.
Do mesmo modo que Cézanne se perguntava se o que saiu de suas mãos
tem sentido e será compreendido, um homem de boa vontade, considerando
os conflitos de sua vida, chega a duvidar de que as vidas sejam compatíveis,
o cidadão de hoje não está seguro de que o mundo seja possível.
No entanto, o fracasso não é fatal. Cézanne ganhou contra
o azar. Os homens podem ganhar também, sob a condição de
que se envolvam no risco e na tarefa.