Devaneiando-se às quimeras mais reais, tomando distância das sensações
materiais e regozijando-se então da tersa posição de derrisão,
escarninho das tragédias fatais. Com o espírito desvinculado do
corpo carnal, assiste aos próprios desesperos e se espanta com o alvoroço
por tão mundanas perecíveis futilezas.
Enleiando-se no processo com intrepidez e certa dose daquele gozo sofredor inato
do qual ainda não conseguiu desemarnhar-se, engolindo raivas, mágoas,
hostilidades, digerindo-as e, ao final dejetando-os; sente o peso e a aspereza
daquelas ripas perpendiculares que lhe marcarão o corpo, a morte, a existência,
a imortalidade da meta última.
Desgosto inquietante estiolando o mínimo orgulho que motiva tal criatura
a inspirar cada molécula de ar. Irrevogável energia despendida
no auto trucidamento desanimador, auto-compaixão comparável à
estupidez maior.
Inapreensível certeza mórbida de energia desenlaçada, entrecortada
por jatos populares proporcionando fincadas dolentes de pressão desmedida
em pontos hipersensíveis.
Desesperança pesando desproporcionalmente sobre as costas de uma vida
que se viu enjeitada, sufocada, desambientalizada no espaço menor, viés
do acaso malquisto, tempo doído do curso vivido.
Descaso cabal do mínimo esteio que ainda enxergava. Fantasia explode
do quero a morte, minha sorte! Células imperfeitas, espírito excêntrico
repugnante afugenta belas expectativas divinas. Deus errou, humano existe que
não concorda, dispensa tudo pois não tem mais como dar corda.
Conta pesada a do lutar, cada vez mais está menos a compensar. Projetos
de auto-extermínio entram em ação - falta de opção.