Os cientistas conseguiram. Mudaram o ritmo do tempo. Conseguiram quase pará-lo.
Falta pouco. Portanto, em hospitais para nada servem os relógios. Ponteiros
pra quê? Não importa quantos milhões de pensamentos passam
pela cabeça ou as infinitas viagens imaginárias. O tempo simplesmente
não passa. É para além do toque e do olhar.
Somente aqueles que conhecem a verdadeira dor podem ter o instrumento de percepção
vital afiado. Podem ver, num universo de culturas, o valor somente presente
nas obras construídas com raro tato. A carne arde, deforma, exala os
gases da transformação em meio às chamas belas e fosforescentes
da superação. Marcas infinitas sobre a pele enrugada. incansável
e homérica luta de deuses e semi-deuses perante a fúria das emoções
inomináveis jacentes no coração.
Falta. Nela perco-me ao desfiar minhas motivações emaranhadas
às mais intensas emoções e , por incrível que pareça,
chego com facilidade ao cerne próximo da velada causa que sustenta e
alimenta meu ser perante outros seres da pretensa humanidade. Fina camada esta
entre minha Verdade e a recalcada sociedade. Fina por demais, sensível
até o literalmente 'não o poder mais'. limite perigoso, lúcido,
escorregadio e repleto de armadilhas sensoriais, culturais, instintuais, onde
não creio chegar-se por escolha.
Bolha de sabão, veja! Não toque! Sexualidade? O que é isso?
Que relação possui com a psicose? Este corpo que tanto pesa-me
a existência. Não o possuo, porém lhe devo cuidados, lavar,
carregar, sentir este corpo desconhecido, despedaçado, pele, órgãos,
quase uma essência externa à qual devo nomear aparência.
E minha? Minha é essa aparência?
Sim, eu sei, não há respostas fáceis. De tudo fica sempre
um mistério, talvez vital à minha não convalescença.
O tempo que tanto me fugiu por milésimos de segundos resolve não
mais me deixar em paz. Arrastam-se os segundos na minha tortura de os acompanhar.
Estórias, devaneios, diálogos interiores, imagens mil entrelaçadas,
nada, nada...
Nada consegue fazer o tempo passar. De repente a luz, o raio. os estridentes
gritos surdos-mudos fazem-me arrepiar. Sim, é ele de novo: mais forte
e poderoso que nunca. O medo em sua forma humana de pânico domina o frágil
espírito a balbuciar... vovó,vovô. senhor da razão,
por que não vos apiedais duma alma nascida e fundida na emoção,
crua, nua. Fervente no chamar da redenção.
Viagem.do ente: doente, ente com dor? Qual nunca a teve? Pois se um ente nunca
teve dor, por que usaria a palavra? Existe ente sem dor? Ou sou eu só,
uma doente, que agradece a dor pra aproveitar sua ausência... ou existirão
entes eternamente em dor? Quais?