Eu era viciada em refrigerante. Acho que também em fazer planos. Era
chegar o final do ano e lá se vinha uma lista das grandes.
Neste ano foi diferente. Entre tantos planos que eu poderia fazer, o único
que eu fiz, de fato e sem rabiscar nem piscar, foi o de não beber, durante
os próximos trezentos e sessenta e cinco dias, qualquer refrigerante. Digamos
que foi uma promessa feita sob a luz da razão, e dos fogos de artifícios
derramando estrelas coloridas na areia da Praia Grande. Além do mais, tudo
nessa bebida é excesso. O açúcar, o gás, o aromatizante.
Quanto aos planos, pode ser que eu ainda faça mais alguns, lógico,
sempre sob a luz da razão.
Há cinco anos eu rabiscava uma lista deles sob a pouca luz da emoção,
para depois esquecê-los em alguma página da agenda, afinal eram planos
de longo alcance e que eu não precisava ficar relembrando todos os dias.
No caso do refrigerante não. É todo dia. Na hora das refeições,
na hora do calor, na hora daquela vontade de "alguma coisa" que a gente
não sabe muito bem o que é, mas que na verdade só tem um
nome: ansiedade.
Na ausência do rabisco dos planos, não há como ter a segurança
de que tudo foi previsto, mesmo que a lembrança do previsto seja vaga,
muito vaga. Agora, vez em quando eu tenho de me questionar: - O que é mesmo
que é importante e prioritário no andamento das coisas?
Engraçado é que há sempre uma nova luz, uma possibilidade,
um sonho se descortinando, um permitir-se, e por que não? Mas engraçado,
engraçado mesmo, é não sentir a mínima falta dos planos,
digo, dos refrigerantes! Na verdade ninguém liga à mínima
para os meus planos, se foram feitos ou não, mas já há quem
faça piadinhas perguntando sobre uma tal de "loira gelada" e
outros pseudônimos para a cervejinha.
- Ô gente indiscreta!
(16.01.05)