A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Questão de poesia

(Cissa de Oliveira)

Eu deveria me chamar Carolina. Pelo menos era assim que minha mãe queria. Mas por sugestão de alguém, ganhei outro nome e depois, também por conta dele, um apelido, esse, justamente para amenizar a situação. Na verdade, para me livrar dela.

É que eu me sentia um palavrão. Questão de nome.

Assim, tornei-me Cissa. E depois, com a poesia, Cissa de Oliveira.

Conheci quem se chamasse Hilder. Só não confundam com Hitller. Coisas de "H", acho. Noutra feita, conversei com um tal de Chico Marica, conhecido do meu pai. Engraçado é que foi lá para as bandas do Ceará, terra de corisco e de homem-muito-macho. Tanta "macheza", tem jeito de chão riscado de faca. Arrepia-me. Preferia que fosse de tesão. É que a "macheza" que admiro tem outro estereótipo. Ou nenhum.

Qual será o nome do moço que vi ontem, à noite, lá no semáforo? Roupa espalhafatosa, chapéu esquisito e tochas de fogo, com as quais, habilmente, fazia malabarismos. Chamar-se-á Douglas? Luis? Gabriel? Eduardo? Quem sabe, até, tenha o nome do meu amado. Ninguém, teve tempo de dar uma moeda, posto que o semáforo logo se abriu, quando, repentinamente, após encerrar a "apresentação", começou a passar o chapéu. É moço... você, no semáforo, e a lua, lá no céu!

E se a lua fosse uma pessoa, que nome teria? Terezinha? Amanda? Carmen? Karina? O daquela que for do tipo imprevisível, certeza. Porque hoje, começou mostrando-se inteira e brilhante mas depois, não sei se por adivinhar minhas caraminholas ou se num ensaio de provocação ao sol - que esperança de lua é coisa que não morre - embrulhou-se graciosa em estraçalhadas nuvens.

Nomes, tochas de fogo, coisas esquisitas e luas imprevisíveis, existirão por um bom tempo. Eu é que não. Quanto a Cissa de Oliveira, não existindo, ficarão as letras, parte dos beijos que ela não deu. Questão de poesia.

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