Lembro-me de estar lendo por volta da linha 4900 quando a campainha tocou.
Na impossibilidade de exercer o ato simples de inserir um marcador entre as
páginas do livro, ou, quem sabe, cometer o ato inconcebível de
dobrar a pontinha da página, até porque se tratava de um livro
eletrônico, anotei no bloco de notas - não o do computador - o
número exato da linha. Uma coisa é certa, esse livro eu não
vou perder por emprestá-lo, como ocorre de vez em quando com os outros,
os livros "normais". Ou seria mais acertado chamá-los de "comuns"?
Bem, alarguemos o pensamento e digamos que seja apenas mais um tipo de apresentação
em literatura, embora na minha concepção o livro impresso seja
mesmo o mais charmoso, romântico e prático. Se esses, palpáveis
mas nem tanto devido ao preço, não chegam para tantas mãos
nesse país, que se dirá do eletrônico?
A campainha tocou e se eu pudesse continuaria divagando. Diria por exemplo sobre
o ato de deter, não apenas com os olhos mas com as mãos, o livro.
Não se trata do ato da posse, da "usura" como citaria Ezra
Pound. Deus me livre! Usura não, uso, simples, concreto, limpo. Acaso
é com usura que a criança cresce o sonho no construir do castelo
de areia ou de peças de madeira, ou mesmo no pentear dos cabelos de milho
das bonecas do milharal que a família semeou? Penso que não.
Mas se você tem um computador, acesso à Internet (ou apenas um
disquete gravado) pouco tempo e pouco dinheiro, o livro eletrônico é
uma opção fantástica. Lembro-me de que na Bienal 2004 ocorrida
em São Paulo eu me interessei por comprar o "Na sala com Danusa"
e alguns outros, obviamente não podendo comprar tudo o que me interessou,
tamanha a maravilha. Pois é, atualmente eu leio Danusa, direto da tela.
Presente de uma amiga que, estou certa e a própria Danusa indicaria,
devo agradecer com outra gentileza e mais, passar adiante o tal arquivo, digo,
livro.
Não sei porque diabos existe a campainha. Ai se for um vendedor de livros!!!Velhos
tempos. Tinha perfume entre as caixas das coleções, tinha sim.
Poesia pura. Iluminuras... Vou à porta e é tão somente
a vizinha do apartamento ao lado. Vai buscar o filho na escola e pede para eu
desligar o forno onde faz pães. Com isso, e já mudando de pato
pra ganso: eu tenho ou não tenho que ser metida ser escritora?
... e eu nem vou ligar se dobrarem as pontinhas das páginas.
(10.03.05)