A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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"BOUCING"

(Cissa de Oliveira)

Pode parecer que existem duas principais maneiras de se abordar determinados assuntos desagradáveis, você me entende: com jeitinho ou de sopetão, mas a grande verdade é que quanto mais chato o assunto, menos escolhas existem, restando, nesse caso, apenas uma: começando, ou como diriam nesses livros de auto-ajuda: agindo, agindo, agindo.

Senão vejamos, como falar, por exemplo, sobre as palavras do tipo "boucing". Em termos práticos são o que há, em termos de chatice e de dor de cabeça, no quotidiano das pessoas. Aliás, "boucing", dá tanta canseira que ainda não foi completamente assimilada a sua tradução para o Português. Nesse mundo globalizado, diga tal palavrinha não tão mágica e logo se pensará unicamente numa tacada de e-mails devolvidos, o que já não é de pouca importância.

É fácil deduzir que "boucing", logo mais será uma palavra tão expressiva e incorporada quanto "hot dog", "delivery", "stop", "shopping", "show", "fashion", "e-mail" e outras, ainda despertando para o gosto e as necessidades das pessoas.

Por enquanto, e eu disse por enquanto, o tal do "boucing" tem lá o seu glamour, digamos assim. Ora, dizer que se teve um problema de "bounce" no Banco é bem diferente de dizer que o cheque foi devolvido por falta de fundos. Mas dizer que o fulano move-se rápida e energicamente de tanta felicidade, e essa é outra tradução para "bounce", também tem seu encantamento, principalmente se não for porque o dito cujo acabou de roubar a sua carteira e está se escafedendo. Vá lá, se você ainda for do tipo "bouncer", algo como um "leão de chácara" de porta de boate. Como vemos, é tudo uma questão do que de fato acontece, para o entendimento do que seja "boucing"... Deus ou o demo?

Se amanhã ou depois alguém discorrer sobre algo que pula, ou que é bastante elástico, vigoroso, cheio de saúde, você até poderia pensar tratar-se de um bebê, no auge dos seus três, quatro anos. - E se a isso acrescentarmos as palavras, forte e grande? Bem, então poderia ser um macaco, porque um homem, pelo menos desses de mente sã, e fora de um ringue, é que não seria, alguns responderiam. Mas há quem ache que é, e pronto. É Deus e é o demo, repito.

O fato é que tal e qual a guerra dos transtornos de se ter "e-mails" importantes devolvidos, a balbúrdia silenciosa do "boucing" vai minando a paciência da gente.

Haja Deus e haja demo, na terra de tanto silêncio.

(Da série: "Deus e o demo na terra do silêncio", 19/08/04)

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