Confesso: sou bastante cética. Ou, para não contrariar o dicionário:
céptica. Não confundir com séptica, por favor. Mas ser cética,
pra mim, diz apenas isso: ser cética. Não determina ou expande questões
filosóficas. Aliás, pode-se ser tão cético a ponto
de não se acreditar nem no próprio ceticismo.
Com a aproximação do Dia Internacional da Mulher eu fiquei pensando
sobre o que escrever em comemoração à data. Quanto à
data em si, acho mesmo que ela não deveria existir. Se o problema é
comércio, já não chega o dia das crianças, páscoa,
natal e o dia dos namorados? Assim, daqui a pouco é possível que
tenhamos o "dia do ser humano". Esquecendo o comércio, imagino
que isso quererá dizer que teremos descido tanto nas questões humanas
que precisaremos ser lembrados do fato de que somos humanos, morríveis.
Mas voltando à comemoração, escolhi falar sobre a questão
do famoso "sexto sentido" atribuído às pessoas do sexo
feminino.
Dizem que as mulheres têm o sexto sentido apurado. Sou cética
quanto a isso também. Parece que não há comprovações.
Aposto que é uma teoria inventada por algum homem.Veja que para o homem
o dito sexto sentido das pessoas do sexo feminino traria muitas vantagens:
a mulher adivinharia o que ele pensa, o que ele sente e até o que ele ia
falar mas não precisou porque afinal ela intuiu! Não é à
toa que o vocabulário feminino é infinitamente mais rico do que
o masculino. É como se para eles bastasse a bola de cristal que
toda mulher tem, uma coisa tão instigante (como as lendas, extremo do ceticismo)
que ninguém até hoje sabe onde ela guardaria a tal bola. Se ela
seria guardada nos bolsos, acima do hipotálamo, no coração
ou entre as asas, que importa?
Pausa para indagação infame: será que foi daí que
surgiu o termo "deu na bola"? E o "deu bola"? Aí já
entra a questão do machismo e então voltemos ao ceticismo e a economia
de fala masculina e sua repercussão na mulher. Homem que fala, fala de
verdade, é tão raro que deveria ser "imorrível".
Se bem que como cética eu não acredito nem em imortais que dirá
em imorríveis. Mas fico com a "imorrível" que pelo
menos é uma palavrinha bonita para uma poeta e então fica essa mesma.
Dia destes, vou ter um mal passamento como diria a minha avó
(o único ser imorrível que eu conheço) e vou escrever
uma lenda, lugar perfeito para as metáforas de quem tem palavras saindo
pelo ladrão. Até já escolhi o título "a fala
no país da torturice". As mulheres devem saber do que eu digo.
O Chico César canta uma música que diz assim: "... já
fui mulher, eu sei, já fui mulher, eu sei.." Aí está
um homem com H e todas as demais letras maiúsculas. Que ele não
me ouça, bem! Quanto ao título da lenda, um pouco melhorado e ficará
mais para título de tese, o que é aconselhável para uma cética.
Pra mim quem tem sexto, sétimo, oitavo.... milésimo sentido, são
os poetas.
Pelo visto, devo andar muito mal,
uma mulher cada vez mais cética
e poeta.
(07.03.05)