Assim transcorre a vida ... Ontem pensei com desânimo, tive até
vontade de sumir e tudo esquecer. Estava triste desde cedo, o sol me fazia mais
nervosa, até as crianças me irritavam, meus passos pareciam estar
estagnados na esquina do fracasso, com medo de atravessar a rua da vida. Nem
mesmo chorar eu conseguia, todos estavam a sorrir.
Hoje, porém, novas ilusões chegaram foram arrumando a casa do
coração, decorando tudo com alegria, nem sei de onde apareceu,
pois meus lábios não a tinham. A esperança parecia reluzir
pela primeira vez, como se sua força nunca tivesse sido usada contra
nada. Estava tudo a meu favor, até o dia permanecia quente, assim como
o calor humano que exalava a alma, num dia de paz.
Por vários motivos somos assim, metades, partes contrastes, que ora riem,
ora choram. Seremos sempre pontos opostos, bons ou maus; céticos ou crentes;
alegres ou tristes; sonhadores ou realistas; amigos ou inimigos. Basta apenas
nossa escolha, nossa vontade, nosso ideal. Se quisermos nós podemos fazer
de nossos corações um bem ou um mal, cabe a nós decidirmos
se queremos ou não viver bem, pois para tal intento é preciso
discernir a beleza da sujeira e lutar contra tudo e contra todos se for preciso
para que possamos mostrar a todos a beleza que é a arte de viver, transformando
nossas vidas em altares onde esteja apenas a imagem que fizemos de nós
mesmos.
(Texto publicado no jornal Tribuna de Minas 1977)