A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Irônica desconstrução do substantivo

(R. Carvalho)

Humanos somos? Desconstruo o substantivo e digo: santos carregando carrascos. Carrascos carregando santos. Pra que lugar? Desconstruo o substantivo e digo: não há lugar. Não há planos.

Somos originais com digitais desiguais. Muito mais podemos desconstruir para perceber que não existem seres humanos. Um lado mal, outro vai bem. Somos seres terráqueos, apenas. Habitantes de um planeta distante. Bola solta no espaço sem qualquer apresentação que nos abriga do anonimato.

Somos obrigados a caminhar em uma superfície que olha o infinito. Gravidade nos segura. Desconstruo o substantivo e caímos no vácuo. O lugar perfeito para o que somos. Matéria putrecível enterrada com vermes e baratas, seja você quem foi. Matéria carrasca e santa. Não há unicidade. Convive-se com o anjo e o diabo. Mentira seria negar essa convivência. Desconstruo o substantivo e sinto a podridão dos nossos pensamentos em cada dia que estamos vivos. Contra quem não sei. Sei que unicidade do ser não há. Verdades relativistas se alastram em nós.

Giramos demais. Rotação e translação. Como um soldado que marcha ao redor do seu pelotão que também marcha, mas marchamos soltos pelo espaço. Talvez sejam esses os sinais que nos entontecem e nos faz querer ser humano. Novamente desconstruo o substantivo para entender que quem nasce na terra terráqueo o é e ponto final. Esse negócio de seres humanos é muito sentimental e nos faz mal. Pensando bem sabemos que não somos humanos.

  • Publicado em: 15/10/2007
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