Quisera entortar as retas de um retângulo, retirar seus ângulos
quadrados, fazer da geometria um poema de formas irracionais tal como é
o sentimento amor. Linha paralela que não se encontra, base que não
beija o topo, linhas que se aglomeram no espaço e no tempo e acabam por
gerar figuras disformes. Linhas que amam o horizonte e seu sol, mas tombam em
nuvens possessivas, em sobras e sombras de iras configuradas com a luz do sol.
Linhas que tentam invadir um círculo fechado, uma pirâmide sem
entradas. Só a energia vaza do espaço e une criaturas e molduras.
Somos traços não geométricos, somos traços largados
às traças, como assoalhos que se quebram a cada pisada a mais.
Não temos caminho certo, nem amor certo, ainda agora, nesse século
de valores inversos, nenhuma geometria poderá descobrir o que realmente
é uma unidade de medida. Tudo se baseia em hipóteses, numa desconstrução
de signos que nos leva a crer que nenhuma criatura consegue amar de verdade
sem cair nas curvas de uma estrada sem dono e sem mistério. A morte é
um mistério não revelado. As torres do xadrez podem ser de vidro
ou qualquer outro material, mas o amor, esse sentimento que balança entre
sol e sombra; entre sorriso e dor; entre querer e não querer, mais parece
uma dama a comer sem ver peças mais íntimas.
Não podemos esquecer os triângulos amorosos ou mesmo os paralelepípedos
daquela ladeira onde o amante de Eça de Queirós se encontrava
com Luísa, uma dama que se perdia num tabuleiro de romance realista.
Ainda temos as cartas, carta de Pero Vaz de Caminha, carta de alforria, carta
última de Getúlio Vargas, carta cartográfica que mostra
onde estamos no espaço geométrico de minhas retinas em elucubração.
Daria todos os dados para saber com quem seria feliz. Como queremos alguém
perfeito, não? Você não gostaria de ter seu amor modificado
em vários ângulos? Não gostaria de um isóscele? Aquele
triângulo de lados iguais? Alguém assim que pudesse nos adivinhar
cada aresta? Pois é, o amor pode ser contado também em ciências
exatas. Era da interdisciplinaridade. Troquemos a metalinguagem. Teremos uma
aula de retas e curvas que o amor provoca. Há maluquinhos que soltam
os freios e se lançam em desatino nas curvas ao levar um grande fora
da namorada. Há bêbados que se isolam na dormência ou demência
quando o amor se esvai pelos quatro cantos do mundo? Será o mundo quadrado
para ter cantos?
Mas os amores continuam pelas linhas da palma da mão lida pela cigana,
pelas linhas digitadas no Orkut, pelos semblantes reluzentes de um trapézio
repleto de desigualdades gritantes. Mas cada um está no seu mundo, na
sua sociedade, é assim o estudo agora. Cada comunidade tem que viver
de acordo com a realidade de seu quadrado. Não há mais vilas,
há comunidades, pequenos quadrados, círculos, retângulos,
ou mesmo figuras amorfas. Não se deixe mofar, trace sua linha, seu desenho,
seu círculo de amigos, invente uma namorada, uma figura bem contornada,
com as formas perfeitas, mas não se iluda, sempre o amor será
duas retas paralelas que tentam se encontrar, mas um carrossel desfila beijos
diversos nas micarês. Beijos que dançam ao som do não compromisso,
do não ao namoro; do sim, aos desenhos livres, aos poemas livres, aos
dialetos livres, aos afetos livres, ao riso e desprendimento das linhas do amor
exato. Amor de linhas paralelas que talvez se encontre no infinito: aquele oito
deitado que nunca se levanta. Retas não existem. Então acredite:
Amor exato é aquele que você precisa ignorar erros e conviver com
várias curvas. No final são puras medidas de prevenção
que não funcionam. Todos estão sujeitos a sofrer de amor.