Hoje, recebi uma crônica, via mail, que ressalta a solidão omissa
daqueles que insistem em viver seus amores sem rédeas, sem bifurcações,
sem cobranças, sem alianças, sem delimitações, sem
constância física, apenas insistem em querer ser livres para amar
pessoas também livres - dessas amarras dos relacionamentos - que insistem
em querer viver juntos fisicamente, comer pipoca juntos, ouvir o ronco juntos,
colar os pezinhos no inverno, assistir todos os filmes juntos, viver debaixo
do mesmo teto com todas as mordomias de um amor mais real, palpável,
aconchegante, sem solidão.
Ora, se assim o fosse, casamentos não se rompiam tão rápidos,
desabafos não vinham após um mês de convivência, os
gritos ainda seriam palavras de amor, as louças menos importantes que
o sexo, os filmes não se tornariam rotina e as ilusões ainda seriam
sonhos a se realizar, e a solidão não seria pior: solidão
a dois.
A verdade é uma só. Tempo não existe. Amor é uma
incógnita. Convivência uma expectativa. Eternidade não existe.
Palavras não explicam nada, e quer saber? Desabafos e insatisfação
e solidão não advém dos relacionamentos que temos. Relacionamentos
são apenas atalhos da desconstrução - obrigada Derrida
- da verdadeira causa de nossos paradoxos e crises existenciais.
Insatisfação, depressão e solidão são marcas
de uma humanidade fadada a existir sempre sem nunca saber a finalidade de sua
existência: o super-homem da Gaia solitária do uni-verso.