O som impreciso das horas desata minha fé em compromissos insanos. Às
vezes perco a lucidez e uma amnésia profunda recorta minha memória
em atalhos centrífugos... Tudo foge de minha máquina e sinto que
o espaço-tempo é uma combinação irreal de chips
manipulados por alguém.
Sinto-me como se fosse acordar bem dentro de um de um pânico misterioso
em que não saberia se sou real ou se me criaram e me assistem assim:
letreiro de néon a explodir partículas de nêutrons. Algo
me faz sem entender como podemos viver de horas tão marcadas, de dias
tão próximos e iguais. Sinto que os espasmos frontais soam nas
crostas de meus pensamentos.
A cada realçar de meus dedos vejo minhas mãos levantadas aos
céus... Onde colocaram nossas verdades? Às vezes Deus fala comigo
através do espírito. Como Deus me mostra as pessoas e suas fraquezas!
Até suas mentiras são reveladas. É incomensurável
a forma como Deus afasta o que não quer que nos aconteça.
O som do sol é o silêncio. O silêncio da lua é a
estaca que se vazou no centro da terra. Agora é a fantasia que estanca
a realidade e me doa um átimo de paz ilusória. Até quando
o céu ficará sob nós? Quem poderá me falar quando
daqui sair? O que saberei após morrer? O que será a morte? Ilusão?
Uma passagem? Um buraco? Um começo? Uma escavação da liberdade?
Começo a me preocupar. Quando solto as labaredas de minha mente, meu
corpo transpira o espectro. O suor molha o planeta e causo deleite aos outros.
A janela me abre os olhos, vejo você adentrando meus espaços internos.
Sou assim, reserva de combustível quase parando. O som de minhas escadas
são os passos que não caí. O silêncio de mim. Tudo
que não pude conhecer no mundo. Todos os lugares que não puder
chegar.