A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Sem título 3

(R. Carvalho)

O som impreciso das horas desata minha fé em compromissos insanos. Às vezes perco a lucidez e uma amnésia profunda recorta minha memória em atalhos centrífugos... Tudo foge de minha máquina e sinto que o espaço-tempo é uma combinação irreal de chips manipulados por alguém.

Sinto-me como se fosse acordar bem dentro de um de um pânico misterioso em que não saberia se sou real ou se me criaram e me assistem assim: letreiro de néon a explodir partículas de nêutrons. Algo me faz sem entender como podemos viver de horas tão marcadas, de dias tão próximos e iguais. Sinto que os espasmos frontais soam nas crostas de meus pensamentos.

A cada realçar de meus dedos vejo minhas mãos levantadas aos céus... Onde colocaram nossas verdades? Às vezes Deus fala comigo através do espírito. Como Deus me mostra as pessoas e suas fraquezas! Até suas mentiras são reveladas. É incomensurável a forma como Deus afasta o que não quer que nos aconteça.

O som do sol é o silêncio. O silêncio da lua é a estaca que se vazou no centro da terra. Agora é a fantasia que estanca a realidade e me doa um átimo de paz ilusória. Até quando o céu ficará sob nós? Quem poderá me falar quando daqui sair? O que saberei após morrer? O que será a morte? Ilusão? Uma passagem? Um buraco? Um começo? Uma escavação da liberdade?

Começo a me preocupar. Quando solto as labaredas de minha mente, meu corpo transpira o espectro. O suor molha o planeta e causo deleite aos outros. A janela me abre os olhos, vejo você adentrando meus espaços internos. Sou assim, reserva de combustível quase parando. O som de minhas escadas são os passos que não caí. O silêncio de mim. Tudo que não pude conhecer no mundo. Todos os lugares que não puder chegar.

  • Publicado em: 12/12/2007
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