A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Sem título

(R. Carvalho)

Não sei bem o que é um átomo. Nem sei relacionar a influência familiar com as nossas vidas. Também não sei o significado da existência. Quisera ter os sonhos todos nas mãos e realizá-los de uma só vez. A dor da carne nem se compara com a dor da vida. A mente engana mais que o olhar. Ás vezes somos heróis, outras vezes somos cúspide das verminoses. Tem gente que se acha tão importante e se esquece que morre como todos nós. A noite é uma incógnita que ás vezes incomoda demais. A noite guarda um silêncio que podia morar durante o dia. Durante o dia é tão mais cruel. Como as pessoas estão mais empedernidas e calculistas. Calcula-se todos os passos. Com esse demonstro que faço isso. Com aquele outro vou até lá. Com mais esse engano àqueles. Com esse outro posso chegar onde quero. A arquitetura do intento despreza os meios. Pisa-se na grama. Pisa-se na fama. Pisa-se na humildade. Pisa-se na torre. Pisa-se nos outros. A distância de nós e nossa natureza é tão grande quanto a distância da terra da sua natureza. Destruímos toda índole de nossa gênese. A gota oceânica se esgota sem nem termos conhecido todo seu bioma. A linguagem mudou. Os planos foram traçados. As brincadeiras cada vez mais raras. O rosto da juventude a expressão do estresse, da precoce exigência de se tornar adulto desde a infância, da competição desleal.

Não sei se durmo ou se escrevo, se me calo ou se acordo; não sei me encaro ou se fujo do que vejo. Nem sei mais derramar o bálsamo, mas é com a paz que deixo vocês pensarem: o que sabemos de nós? O que sabemos de nossas vidas? Quem tem a verdade? O que é o silêncio da noite, quem é o dia?

A paz cala os questionamentos, descansa a mente e nos e faz caminhar até onde devemos chegar. Caminhe em paz. Essa é a chave do existir. Viver é ignoto de todos nós, pode ter certeza. O silêncio da noite guarda sono e sonhos dos adormecidos, de nós, acordados, cobra a lucubração.

  • Publicado em: 21/11/2007
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