O amor em plenitude é tudo o que sonhamos alcançar. Nem sempre
sabemos. Não sabemos porque nos acostumamos a receitas (como se amor
fosse um doce, um prato gostoso, um remédio milagroso), estamos sempre
esperando lições, sugestões, esboços, modelos, bulas
a serem seguidas. E nada disso pode existir no amor, se o desejamos pleno. Porque
amor pede para ser inventado, criado, aperfeiçoado, e nunca aceita ser
tomado por completo ou pronto, o que levaria ao risco de retrocesso. E o amor,
para crescer em perfeita harmonia tem que ser a quatro mãos, a correspondência
é indispensável. Seja qual for o amor: o de pais e filhos, o de
irmãos, o de amigos, o de companheiros de vida, não importando
suas orientações sexuais, e até mesmo o amor sublimado,
mais raro mas possível. E o amor, para tanto, precisa ser pesquisado,
além de exigir o maior e mais esmerado cuidado.
O que seria a pesquisa no amor? Vamos falar aqui do amor a dois, o amor de
um casal que se une na vida, seja homo ou heterossexual. Sabemos que a vida
sexual é um esteio do relacionamento amoroso. O sexo segura uma relação,
dizemos sempre. Mas sabemos também que não é qualquer sexo
que tem tal poder. As pessoas se atraem mutuamente. Existe o tempo de comprovar
essa atração, o que chamamos namoro. É o momento das descobertas
um do outro e cada um de si mesmo: sentimentos, atrativos, apelos e respostas.
Desentendimentos e rejeições devem merecer a mesma atenção
dada às identificações e aprovações.
Os desentendimentos são resolvidos através de diálogo
honesto e de comportamentos transparentes. Mentiras e joguinhos, infelizmente
tão usuais no amor, são venenos que podem minar de vez a confiança,
criando forte empecilho para qualquer acordo entre parceiros. Pessoas sérias,
maduras, jamais se entregam a essas práticas. Pessoas imaturas, se as
praticam, terão muita dificuldade em sair de sua infantilidade. Definidos
e resolvidos os desentendimentos, aprofunda-se o diálogo, que se torna
reflexão, não apenas frases de ida e volta que nada esclarecem.
Num aprofundamento de ambas as partes, os laços se estreitam. Os anseios
pela concretização do amor se fazem sentir mais fortes e urgentes.
Porque o amor se concretiza na carne, a cada relacionamento mais exigente ele
se torna. Essa primeira caminhada é em geral fascinante, farta em surpresas
que, agradáveis ou não, tornam necessário o diálogo
que, por sua vez, favorece a harmonização do casal. Com a impressão
de que o amor cresceu suficientemente e está garantida a união,
a conclusão é: nos amamos, nos amoldamos e pronto, agora basta
seguirmos juntos. Em pouco tempo perceberemos que a conclusão foi precipitada.
A sensação de marasmo começa a dar sinais. Se isso não
é discutido, se a opção é "ir levando",
em pouco tempo o tédio toma conta. Os relacionamentos continuam, mas
já não despertam o mesmo entusiasmo de antes. O prazer passa a
ser só o prazer do momento, não continua, não desperta
mais desejo, não incentiva mais a criatividade no amor. A mesmice corre
o risco de se instalar. Com certeza, o fim se anuncia.
Nosso corpo é um universo imenso e inesgotável que nunca será
explorado inteiramente. Guarda mistérios pedindo para serem desvendados.
Sempre encontraremos, à espera de atenção, um pedacinho
do corpo que ainda não foi explorado suficientemente, que tem ainda um
prazer novo ou pouco estimulado, pronto a estourar. E quando falo em corpo,
a alma está implícita, porque a alma é o próprio
amor, é quem cria o desejo irrefreável de dar prazer ao próprio
corpo e ao corpo do ser amado. Se esse desejo é desprezado, se não
encontra resposta, definha, morre de inanição. Humanos que somos,
queremos sempre mais, queremos sempre o novo, aí o incentivo para a pesquisa
do corpo, a ferramenta da alma na realização do prazer.
Essa pesquisa exige carinho, interesse, necessidade mesmo de encontrar prazeres
novos que vençam o tédio que ameaça a relação.
Exige principalmente companheirismo para que um esteja inteiramente aberto ao
outro nessa busca, nessa exploração encantada do corpo. E seria
impossível aqui listar as possibilidades de encontro, pois essa é
a busca íntima de pontos misteriosos que só os casais podem fazer
e que diferem de pessoa para pessoa. Depende de sensibilidade e de disponibilidade
de entrega, atributos essencialmente individuais. Cada casal tem a sua experiência
e infindáveis descobertas. E lista nenhuma é importante aqui.
Importante é a disposição, a dedicação e
a liberdade de cada amante. Importante é que nos disponhamos a isso e
realizemos o amor em plenitude.
Essa deliciosa tarefa é para toda a vida. É esse o alimento que
mantém viva uma união duradoura, como aquela que encontramos em
casais que morrem velhinhos e ainda se amando "a mil", como se amaram
no distante dia do encontro, o "zero" inicial.