A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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FAZER AMOR - SUAS IMPLICAçÕES

(Olympia Salete Rodrigues)

Fazer amor... Quê expressão gostosa! E delicada. Melhor que "ter uma relação sexual", ou "conjunção carnal", ou "encontro de corpos" e por aí vai. Fazer amor... coisa que todo mundo faz ou quer fazer, mas muitos não admitem ou não gostam de falar a respeito. É como ver homem pelado numa peça ou num filme. Muita gente sai criticando, pra que isso?, coisa feia, indecente, precisava aparecer assim? Só que o pessoal que critica, na hora em que a magnífica imagem aparece, fixa os olhos nela e não desgruda enquanto dura a cena... digamos, horrível... Eu me lembro, quando adolescente, ainda não tinha tido oportunidade de ver um garoto nu, a não ser meu irmão, meio de soslaio, disfarçadamente, quando lhe caía a toalha ou pela fechadura do banheiro... Fora isso, só me mostravam neném peladinho, coisa mais sem graça na minha opinião. E naquele tempo as revistas de nus eram raras e só traziam mulheres. Poxa, mas nem no papel? Um dia, na casa de uma amiga, a brincadeira era de esconde-esconde. O complemento dos fundos da casa era de madeira. A meninada corria e cada um se virava para se esconder. Eu fui me esconder no quartinho dos fundos. Pois o irmão da minha amiga, um adolescente já taludinho, teve antes que eu a mesma idéia. Quando entrei não o vi. Mas ele falou comigo: ei, estou aqui em cima. Olhei e ele estava em pé numa estronca, bem acima de minha cabeça. Apesar de já ser mocinho, usava ainda calças curtas, era moda na época. Ao olhar para cima, quê maravilha! Pelas pernas largas da calça eu vi seu pênis balançando, livre e solto. Claro que procurei assunto pra falar com ele, bem baixinho, só pra ficar olhando pra cima. Foi o primeiro pênis maiorzinho que vi, assim, longamente, em toda a minha vida. Pois confesso: aquele primeiro pênis eu nunca esqueci... rs... E o dono nem sabe...

Segui minha vida até não só ver, mas sentir um, aconchegado ao meu corpo, logo depois dentro dele. A emoção foi enorme. Mas eu ainda tinha mil superegos na mente e não dizia que fiz amor, dizia só "fiz", imitando os adultos... Só descobri e me apaixonei pela expressão quando saiu a famosa frase: "faça amor, não faça guerra". Já então tinha um posicionamento político e a frase me encantou também nesse sentido. E fiz imediatamente a relação com o que eu já fazia e nem sempre contava. Eu já fazia com amor, mas não tinha sacado que algo que tinha que esconder de todo mundo pudesse ser citado como amor. E nunca mais falei diferente de "fazer amor" quando me referia ao encontro prazeroso com um eventual companheiro.

Meninas da minha idade questionavam. Diziam que amor a gente só fazia com o homem amado, o escolhido, o namorado, se ele fosse sério candidato a marido. Eu retrucava: mas a gente pode fazer sem ter compromisso e ter amor naquele momento. Todo mundo achava isso impossível. Eu não. Eu sempre fui muito romântica, mas nunca a ponto de achar que para ir pra cama com um companheiro tinha que ficar junto a vida inteira. Era minha descoberta do direito ao prazer. Racionalização? Não sei. Sei apenas que exerci meu direito como manda a Constituição...

E tem mais: a expressão "amor solitário", em geral usada pelas mulheres, muito rica e real. Pois a mulher fantasia, vê o companheiro que teve ou deseja ter, algumas até falam alto, ou seja, transpiram ternura mesmo sem ter para quem entregá-la. Chamar a isso simplesmente masturbação é negar a beleza e o prazer do momento, é quase um pecado. Sem moralismos, por favor!!!...

Mas voltemos ao começo. Eu não entendo por que o corpo do homem causa tanto mal-estar em certas pessoas, principalmente em mulheres. O corpo da mulher foi visto nu desde que o mundo é mundo e nunca causou tanto alvoroço. Algumas me dizem que é pela relação do corpo masculino no ato sexual. Mas eu pergunto: e o corpo feminino não entra no ato sexual? Por que não relacionar do mesmo jeito? O moralismo não tem mesmo explicação.

Mas chego a uma conclusão interessante: o moralista, em geral, é o oposto do que manifesta (isso é manjado...). Ele e ela fazem esse escândalo para que ninguém suspeite o quanto ele e ela adoram ver corpos desnudos. Eu não me julgo moralista (se fosse não estaria escrevendo esta crônica...). Então concluo partindo de mim: adoro ver um homem nu, a diferença é que não disfarço nem escondo isso de ninguém. Já declarei várias vezes até por escrito... E conto mais: quando faz um tempinho que não faço amor, seja por qual circunstância for, sonho com homens nus, penso na cobiçada imagem com mais freqüência e, à medida que o tempo passa e a coisa aperta, eu acordo, olho pro forro do meu quarto e vejo um monte de pênis ali pendurados, balançando, me provocando, todos rindo de mim... E saibam todos: não me considero tarada. Acho que sou a mais livre e normal das mulheres!

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