A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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EXPLORAçÃO DO HOMEM PELO HOMEM

(Olympia Salete Rodrigues)

A cada notícia a respeito, sempre acho que chegamos ao limite máximo, que nada mais grave poderá ocorrer. Mas ocorre sempre, como vimos há pouco: fiscais de trabalho escravo ou indigno mortos no exercício do ofício por inescrupulosos exploradores. Parece não haver limites para a ambição humana. A mim chega a ser ofensiva a carga de pertencer a essa espécie cada vez mais degradante, a única de que se tem conhecimento, no universo, de escravizar e explorar a própria espécie.

Mas não vou me ater a essa aviltante forma de exploração. Felizmente existem instituições públicas que, apesar das dificuldades, tentam defender suas vítimas.

Há diversas outras formas de exploração que raramente são reveladas e para as quais pouco atinamos. Há milhares de explorados e escravizados em campos que nos parecem abstratos: no intelectual, no afetivo, no da dignidade, da credibilidade, da educação, do lazer, do sexo e/ou do sexual, em qualquer campo, enfim, em que haja qualquer chance de se tirar proveito do outro, do próximo, do semelhante, (Semelhante?) E as armas usadas são bem outras, talvez mais cruéis e eficientes. Para esse tipo de exploração não existem leis, não existem instituições públicas ou privadas (e isso quer dizer: vire-se, defenda-se sozinho). Sem qualquer sinal de perigo à vista, grassam os exploradores sempre impunes e cada vez mais cínicos: estupradores morais. E quando digo estupradores, refiro-me a ambos os sexos, pois se estuprar moralmente era exclusivo dos homens, agora contamos também com mulheres, ávidas por ludibriar homens desavisados, por um sentimento pérfido qualquer, por vingança talvez.

Para que isso tenha um paradeiro é preciso que cada um de nós se posicione, esteja alerta, deixe de crer e passe a ACREDITAR com firme consciência, abra mão de qualquer presunção quanto à sua condição humana que pensa superior aos demais seres vivos, desvie definitivamente os olhos do próprio umbigo e se assuma como é para atingir o COMO QUER SER. Numa palavra: não basta abrir os olhos, é preciso enxergar.

Tentemos nos enquadrar: somos explorados ou exploradores? Que cada um reflita e assuma seu posto, e lute contra ou a favor de si mesmo para que o mundo seja mais humano na acepção da palavra...


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