A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

A ENORME DIFERENÇA

(Olympia Salete Rodrigues)

Tudo ia tão bem: plena aceitação, nenhum problema, muita compreensão. Sonhos e planos na gostosa direção da felicidade. Nenhum empecilho, nem mesmo a diferença no tempo.

Aí o engano: no desejo e na entrega, idade não contava e ainda não conta. E nos esquecemos dos planos e sonhos da vida real: nossas expectativas, a espera e a pressa que do tempo dependem. Na gostosa direção da felicidade, você tem uma vida à sua espera... uma vida que eu não tenho.

A sua juventude sonha com vitórias e por elas busca e luta, sem pressa, no tempo de hoje para o tempo futuro. O trabalho insano é o instrumento que você vê para conseguir e você o usa sem medida. A ação não dá o tempo da reflexão. Nada mais justo, segundo você...

Eu já não tenho perspectiva de amanhã, não existe mais trabalho que valha a pena, a realidade é: sentada em minha cadeira, calada, sozinha, olhando o vazio, com todo o tempo do mundo para refletir. A única pressa que eu tenho é de amar, de receber amor, de me entregar inteira, realizando o HOJE que não tem futuro. O meu instrumento é o estar junto, falar e ouvir, conhecer você e a você me mostrar, o que exige um tempo que você não tem.

E somente muito tarde acordamos para o enorme desencontro: a minha ansiedade que tem pressa e a sua calma - ou acomodação? - que tem muito tempo. E, incompatíveis, cada um vai para seu canto dizendo "eu te amo"... a pior maneira de se desfazer um encontro de amor!

Ao final, a diferença em dobro: você fica com a chance de realização de vida como escolheu; eu jogo fora o meu mais lindo sonho - o de fazê-lo herdeiro não do que tenho, mas do que sou e do que aprendi vivendo.

Ambos sofremos, ambos somos verdadeiros, e ninguém tem culpa... Mas o preço é o mais alto: o amor que soubemos viver, também sem medida.


Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente