A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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ANO NOVO NUM CHAT

(Olympia Salete Rodrigues)

Avizinhava-se o ano novo. Eu o passaria sozinha, como sempre. Nem dormir poderia por causa da barulheira dos fogos e da vizinhança comemorando a esperança e a alegria de mais um ano chegando. Resolvi, ao menos por curiosidade, tentar passar esse ano em companhia de gente, mesmo que companhia virtual. Decidi: entraria num chat.

Vinte e três horas e cinqüenta minutos. Era hora de responder à minha curiosidade: haveria alguém num chat num dia daqueles, exatamente a esta hora? Acessei o site escolhido. De cara o Placar informava que havia mais de mil pessoas presentes nas diversas salas disponíveis. Optei por uma e entrei. Encontrei seis pessoas.

Cliquei para Todos: - Oi, gente, vocês por aqui a esta hora, neste dia? Pretendem passar o ano novo aqui?

Pipocaram respostas, todas confirmando.

- Então não sou eu a única solitária no mundo?

Outra vez, confirmação geral: todos estavam mesmo solitários e procurando companhia.

Resolvi provocar:

- Pois façamos nossa festa, passemos juntos. Topam? Quem entra com o champanhe? rs...

Os que estavam em "reservados" abriram suas portas...

Imediatamente alguém se habilitou com um champanhe geladinho... Uma companheira ofereceu salgadinhos.... Outro apresentou uma leitoa tostadinha... Mais alguém entrou com frutas... refrigerantes... até presentinhos...

Confraternização total. Em poucos minutos tínhamos nossa ceia virtual mais que perfeita. Foi quando resolvi entrar com uma nota destoante, não para estragar a festa, mas por uma necessidade de meu coração:

- Vejam vocês. Ainda bem que temos a sorte de ter uma Internet que nos proporciona o prazer deste encontro. Penso agora em quem está tão solitário como nós e nem um computador tem...

A comoção tomou conta da gente. Cada um em sua casa, diante de um micro, silêncio total. Dava para sentir a emoção do momento. Até que alguém clicou, gritando:

- Gente! meia-noite em ponto. Vamos brindar. E seis brindes foram teclados quase ao mesmo tempo.

Terminado o brinde, alguns confessaram chorar. E todos, unânimes, queriam falar sobre aqueles que passavam seu ano novo sozinhos...

Falamos, refletimos, lamentamos, fizemos bons propósitos e, ao final, sentimos como éramos felizes... Virtualmente felizes!!!

Essa passagem de ano foi emocionante para mim. Foi a solidariedade na tristeza, num encontro virtual que se tornou alegria real.

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