A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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QUANDO EU GOSTO, CONFESSO...

(Olympia Salete Rodrigues)

Sim, até às paredes confesso... o fado que me perdoe... Não entendo pra que esconder um querer bem, esconder um amor, engolir palavras de carinho que querem se entregar. Há tanto desamor declarado abertamente neste mundo, causando tristeza, mal-estar, inquietação... Deixar de dizer te quero, te gosto, te amo... definitivamente, não entendo. Será que existe alguém que não se sinta melhor ao se saber amado, querido, bem-vindo? Se existe, não conheço. Desde que a palavra seja sincera, tem que ser dita e cumprir sua função de tornar alguém melhor ou mais feliz. Afinal, não somos ilhas e desejar ser queridos, admirados, amados, não é apenas uma questão de vaidade, mas de sobrevivência. Ontem eu resolvi botar de lado tudo, obrigações, responsabilidades, coisas chatas que tinha que fazer... e fui dormir. Dormi profundamente.

Moro numa vila onde passam constantemente carros e caminhões, com possantes alto-falantes, fazendo propaganda ou vendendo seus peixes: verduras, ovos, doces, sorvetes, e até peixes mesmo...

Meu sono foi perturbado por diversas vezes por esses malfadados invasores. Pois eu abria os olhos, olhava para o relógio... e dormia de novo.

Lembro de ter ouvido um vendedor de ovos... Mandando que as donas de casa levassem bacias para comprar ovos aos montes, de todos os tamanhos e de todos os preços. Conformada, fechei os olhos, dormi mais uma vez... Na verdade, nem acordara direito...

E tive um sonho encantador. Um caminhão anunciando seu produto: "vendemos emails! venham todos comprar! emails de todos os tamanhos, para todos os gostos! preços variados! venham, donas de casa, tragam bacias, levem emails para toda a família!"

Foi sonho, eu sei, mas juro que ouvi. Até meu cachorro ficou assanhado... Pensei em todos os amores e amigos, na alegria que sinto ao receber seus emails. Mas tenho que esperar. Alguns, muito ocupados, escrevem menos. Alguns viajam e ficam em longo silêncio. Outros ainda são mesmo preguiçosos... Mas todos, sem nenhuma exceção, me botam feliz quando leio seus nomes e endereços na caixa postal.

Então resolvi: vou dormir de novo hoje pra ver se o sonho se repete. Se passa esse bendito caminhão, vou lá correndo, com muitas bacias, comprar um montão de emails, duzentos, trezentos, pra entupir minha caixa e me deliciar lendo, lendo, respondendo... dizendo te amo, te gosto, te espero... sem precisar ficar confessando às paredes...

Se alguém de quem eu gosto está me lendo agora, vai se localizar... Claro que vai, pois eu sempre confesso... Então, tome coragem e me mande um email... aí nem preciso comprar...

PS: se a compra de emails ficar cara demais, na próxima crônica eu passo o chapéu... E agora vou dormir... pra de novo sonhar...

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