Nem onze e meia quando você chegou. Embora cansado, estava alegre e disposto.
Tomamos um lanche: pastel assado com cerveja, um brigadeiro tamanho família...
Um banho e nos deitamos. A TV ligada, como sempre falando sozinha... Conversamos
muito, sempre temos assunto. Vinte anos distantes é muito tempo... Coisas
pra perguntar, contar, ouvir, botar em dia. Você insiste, quer ficar perto,
diz que não tem pressa, mas me parece o contrário, me parece tão
desanimado! Eu mais ouvindo, desta vez falei pouco, as minhas respostas você
já conhece.
Foi bom - não foi? - o nosso amor. Você suprindo meu pouco entusiasmo.
Depois quis dormir e me pediu licença... Sempre tão delicado!...
Já quase dormindo, beijei-lhe os lábios de mansinho, você
sorriu sem abrir os olhos, como quem ganha um prêmio... Sorriso bonito...
Disse baixinho que ia me levantar e prometi voltar logo.
Eram três e meia da madrugada. Vim para o micro, dei uma rodada na Net
e a inspiração me convocou. Fiz um poema pra você, bem real
e um pouco triste, mas carinhoso e cheio de ternura. Me comovi ao vê-lo
dormindo: a expressão de paz tentando fugir dos olhos fechados. Publiquei
a poesia. Às seis horas voltei pra perto de você.
Deitei-me com cuidado, pois você ainda tinha uma hora para descansar.
De imediato mexeu-se e se achegou ao meu corpo, aninhando gostoso, jogou o braço
por cima de mim me puxando sem força, que meio acordado-meio dormindo.
Afaguei seus cabelos, aconchegada ainda, tanta coisa pensando... O clima...
a saideira... sem nada dizer, entre carinhos e beijos, muitos beijos. Moleza,
lassidão, mais um cochilo...
Às sete, o acordar definitivo para encarar a realidade: um café
corrido, um cigarrinho, um banho, um beijo, o abraço que não quer
largar e pé na estrada...
Você se foi e em mim deixou uma sensação gostosa de paz.
Aqui dentro eu tenho pena, não de você ou de mim, mas da realidade
que é tão diferente dos meus e dos teus sonhos. Sonhos de amor
inteiro, glorioso. E a realidade do amor meio-termo...
Eu tinha mesmo que nascer poeta!!!