A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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AMOR EM MEIO TERMO

(Olympia Salete Rodrigues)

Nem onze e meia quando você chegou. Embora cansado, estava alegre e disposto. Tomamos um lanche: pastel assado com cerveja, um brigadeiro tamanho família... Um banho e nos deitamos. A TV ligada, como sempre falando sozinha... Conversamos muito, sempre temos assunto. Vinte anos distantes é muito tempo... Coisas pra perguntar, contar, ouvir, botar em dia. Você insiste, quer ficar perto, diz que não tem pressa, mas me parece o contrário, me parece tão desanimado! Eu mais ouvindo, desta vez falei pouco, as minhas respostas você já conhece.

Foi bom - não foi? - o nosso amor. Você suprindo meu pouco entusiasmo. Depois quis dormir e me pediu licença... Sempre tão delicado!... Já quase dormindo, beijei-lhe os lábios de mansinho, você sorriu sem abrir os olhos, como quem ganha um prêmio... Sorriso bonito... Disse baixinho que ia me levantar e prometi voltar logo.

Eram três e meia da madrugada. Vim para o micro, dei uma rodada na Net e a inspiração me convocou. Fiz um poema pra você, bem real e um pouco triste, mas carinhoso e cheio de ternura. Me comovi ao vê-lo dormindo: a expressão de paz tentando fugir dos olhos fechados. Publiquei a poesia. Às seis horas voltei pra perto de você.

Deitei-me com cuidado, pois você ainda tinha uma hora para descansar. De imediato mexeu-se e se achegou ao meu corpo, aninhando gostoso, jogou o braço por cima de mim me puxando sem força, que meio acordado-meio dormindo. Afaguei seus cabelos, aconchegada ainda, tanta coisa pensando... O clima... a saideira... sem nada dizer, entre carinhos e beijos, muitos beijos. Moleza, lassidão, mais um cochilo...

Às sete, o acordar definitivo para encarar a realidade: um café corrido, um cigarrinho, um banho, um beijo, o abraço que não quer largar e pé na estrada...

Você se foi e em mim deixou uma sensação gostosa de paz. Aqui dentro eu tenho pena, não de você ou de mim, mas da realidade que é tão diferente dos meus e dos teus sonhos. Sonhos de amor inteiro, glorioso. E a realidade do amor meio-termo...

Eu tinha mesmo que nascer poeta!!!

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