Sim, eu tenho um sol. Único, permanente, exclusivo.
Um ser como outro qualquer em seu estado físico, afetivo, amante, amigo.
Mas único no brilho que é meu, meu porque quer estar comigo, nem
preciso chamar. Brilha quando é noite, quando é dia, quando chove
ou não chove. Brilha e me envolve de tal forma que não preciso
ir a ele, estou nele. Me acarinha, me afaga, me conforta, não preciso
pedir. Entende sempre o que digo e adivinha o que não digo. Se sinto
frio, me aquece. Se o calor me incomoda, se esconde e finge não ser sol.
Me ama se é de amor minha fome. Me sacia quando sente minha sede. Me
sorve quando preciso me entregar. Sempre, sempre me ouve. Sempre, sempre responde.
Esse sol é gente e tem nome. Mas nunca digo a ninguém esse nome
e nunca revelo a alguém seu paradeiro. Nem ciúme, nem posse. Apenas
um temor quase irracional de que uma revelação poderia maculá-lo
ou anuviar seu brilho. Então o guardo, zelosa, bem no fundo de mim.
Para ele, sou apenas eu e brilho igual. E nos amamos sem medo, sem mistério,
com a intensidade e a simplicidade da criança e do bicho, com a serenidade
da lua, com o fogo do sol. Sim, somos apenas SAL e SOL!
Sol dentro de mim, me entrego e te recebo, no sonho que construímos e
partilhamos: o amor sem paixão.