Há muito tempo ele estava apaixonado. Todo mundo sabia, menos ela. Mas
ele deu tanta bandeira, que os fofoqueiros de plantão acabaram por avisá-la.
Era paixão brava. Ela não se surpreendeu, já estava desconfiada.
Por que, raios, ele não abria o jogo? Orgulho, medo, timidez. A idéia
da timidez a excitou. Começou a jogar indiretas, insinuante. No aniversário
dela chegaram flores. E mais fofocas, todo mundo excitado com aquele romance
vai-não-vai. O assunto já virara tema das conversas de bar. Um
amigo e confidente dele se aproximou para sondar. Ela adorou a jogada. Declarou-se
apaixonada. Foi excitante quando ele chegou depois da revelação.
Veio com o amigo que, discretamente, arranjou desculpa e saiu de cena. Ele quieto
ali, sorrindo, tímido. Como a timidez a excitava...
- Vem sentar-se pertinho de mim... - disse ela - vem...
Sentado pertinho dela ele perdeu o jeito. Pediu licença para tirar os
sapatos e as meias. Calor... Sufoco...
- Sabe, eu estou apaixonada. Adivinha por quem.
- Não tenho a menor idéia.
- Por você.
- Obrigado. - sorrisos - Eu não mereço. Só faria você
infeliz.
- Ah, não acredito. E estou tão apaixonada que até toparia
ser infeliz.
- Você não imagina que pepino está querendo pegar...
- Pois é isto, quero experimentar o pepino...
- É que tenho problemas...
Susto... logo se recompôs.
- Quais? Não dá pra resolver?
Ela tinha oito gatos esparramados pela casa. Ocupavam todos os espaços.
- É que você tem os gatos, sou alérgico...
- Não seja por isso.
Ela se levantou, pegou gato por gato e foi botando pra fora da casa. Nem pensou
em contá-los.