A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O GATO E O TESÃO

(Olympia Salete Rodrigues)

Há muito tempo ele estava apaixonado. Todo mundo sabia, menos ela. Mas ele deu tanta bandeira, que os fofoqueiros de plantão acabaram por avisá-la. Era paixão brava. Ela não se surpreendeu, já estava desconfiada. Por que, raios, ele não abria o jogo? Orgulho, medo, timidez. A idéia da timidez a excitou. Começou a jogar indiretas, insinuante. No aniversário dela chegaram flores. E mais fofocas, todo mundo excitado com aquele romance vai-não-vai. O assunto já virara tema das conversas de bar. Um amigo e confidente dele se aproximou para sondar. Ela adorou a jogada. Declarou-se apaixonada. Foi excitante quando ele chegou depois da revelação. Veio com o amigo que, discretamente, arranjou desculpa e saiu de cena. Ele quieto ali, sorrindo, tímido. Como a timidez a excitava...

- Vem sentar-se pertinho de mim... - disse ela - vem...

Sentado pertinho dela ele perdeu o jeito. Pediu licença para tirar os sapatos e as meias. Calor... Sufoco...

- Sabe, eu estou apaixonada. Adivinha por quem.

- Não tenho a menor idéia.

- Por você.

- Obrigado. - sorrisos - Eu não mereço. Só faria você infeliz.

- Ah, não acredito. E estou tão apaixonada que até toparia ser infeliz.

- Você não imagina que pepino está querendo pegar...

- Pois é isto, quero experimentar o pepino...

- É que tenho problemas...

Susto... logo se recompôs.

- Quais? Não dá pra resolver?

Ela tinha oito gatos esparramados pela casa. Ocupavam todos os espaços.

- É que você tem os gatos, sou alérgico...

- Não seja por isso.

Ela se levantou, pegou gato por gato e foi botando pra fora da casa. Nem pensou em contá-los.

- Pronto. Nenhum gato entre a gente.

- Mas... só de pensar nos gatos... a minha alergia é fogo, sabe?

- Bem, isso depende de você.

- De mim? Como?

- Esquece os gatos, ora...

- É que olho a sua cama e sei que um gato esteve deitado ali...

- A gente troca a roupa de cama.

- Mas e o colchão? Não dá pra trocar o colchão... E quando penso que um gato esteve deitado nele... Não dá pra esquecer...

- Bem... - pensou um pouco - Posso ver se consigo alugar o centro cirúrgico em um hospital pra gente trepar com segurança.

Risos. Ele rindo amarelo. Ela gargalhando.

- Bem, vou pensar nisso. Me abraça... Eu te desejo...

O abraço terminou na cama. Quem foi que falou em trocar os lençóis?!

E o tesão reprimido se soltou. Tesão dos dois. Fogo pegando. Carícias rolando. Roupas pelo chão. Gemidos. Tinha que ser rapidinho, não dava mais pra esperar. Começou um tímido e quente "papai-e-mamãe"... Mais gemidos, urros, pegando fogo. Quase no auge, ela, olhos fechados, ouviu um assustado "Ó!" Abriu os olhos. Ele, apontando para suas costas, repetiu: "Ó!".

Um lindo gato amarelo estava preguiçosamente acomodado sobre a bunda dele, adorando o balanço ritmado do tesão!

O ritmo se acelerou, nem os risos cortaram o prazer começado, o gato se acomodou melhor. Parecia deliciado. O amor se completou com sucesso, para alegria dos três participantes...

O gato se espreguiçou, sensual e matreiro. Saiu de fininho, sem olhar pra trás.

Nenhuma alergia... Ele estava curado!

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