A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O GAROTO QUE ROUBAVA LETRAS

(Olympia Salete Rodrigues)

Tenho um amigo que, quando criança e adolescente, era fascinado pela leitura. A família não tinha condições de sustentar tanta fome e sede desse filho. Ele, esperto e inteligente, ia às livrarias namorar os desejados livros. Folheava um e outro, saía tristinho, não podia levar nenhum para casa. Um dia, folheando um livro, resolveu ler um ou outro trecho. Era uma história que lhe prendia a atenção. Como saber o final? Foi quando teve a idéia de marcar a página onde parou a leitura e lá voltar no dia seguinte e ler mais um pedacinho. E assim acabava lendo o livro inteirinho. Então, começava outro livro... E assim leu muitos deles, cada dia mais fascinado e cada vez mais faminto de saber.

Bendito roubo que deu o seu fruto!

Hoje, adulto, ele pode comprar os livros que deseja. E compra, pois a fome continua. E lê muito e muito escreve também. Como teve que roubar letras, sentiu a necessidade de distribuir as suas. É um grande poeta. Não só é poeta escrevendo, mas pensando, falando, amando. Eu, que tenho a felicidade de ser sua amiga, bebo suas letras poéticas por e-mails quase diários, às vezes até vários num dia. Mesmo um bilhetinho despretensioso se torna riqueza em poesia, desde o cumprimento até a despedida. Cada e-mail vem envolvido em melodia. Do que ele diz, nada se perde. E, além da poesia, me dá o afeto sincero de seu grande coração.

Se eu chegasse aos seus pés, meu amigo, lhe renderia uma grande homenagem. Como não chego, nem chegarei nunca, registro sua grandeza nessa crônica singela. E não só a grandeza de hoje, mas aquela que o levou às livrarias para o "roubo" mais louvável de que tenho notícias...

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