Tenho um amigo que, quando criança e adolescente, era fascinado pela
leitura. A família não tinha condições de sustentar
tanta fome e sede desse filho. Ele, esperto e inteligente, ia às livrarias
namorar os desejados livros. Folheava um e outro, saía tristinho, não
podia levar nenhum para casa. Um dia, folheando um livro, resolveu ler um ou
outro trecho. Era uma história que lhe prendia a atenção.
Como saber o final? Foi quando teve a idéia de marcar a página
onde parou a leitura e lá voltar no dia seguinte e ler mais um pedacinho.
E assim acabava lendo o livro inteirinho. Então, começava outro
livro... E assim leu muitos deles, cada dia mais fascinado e cada vez mais faminto
de saber.
Bendito roubo que deu o seu fruto!
Hoje, adulto, ele pode comprar os livros que deseja. E compra, pois a fome
continua. E lê muito e muito escreve também. Como teve que roubar
letras, sentiu a necessidade de distribuir as suas. É um grande poeta.
Não só é poeta escrevendo, mas pensando, falando, amando.
Eu, que tenho a felicidade de ser sua amiga, bebo suas letras poéticas
por e-mails quase diários, às vezes até vários num
dia. Mesmo um bilhetinho despretensioso se torna riqueza em poesia, desde o
cumprimento até a despedida. Cada e-mail vem envolvido em melodia. Do
que ele diz, nada se perde. E, além da poesia, me dá o afeto sincero
de seu grande coração.
Se eu chegasse aos seus pés, meu amigo, lhe renderia uma grande homenagem.
Como não chego, nem chegarei nunca, registro sua grandeza nessa crônica
singela. E não só a grandeza de hoje, mas aquela que o levou às
livrarias para o "roubo" mais louvável de que tenho notícias...