A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Brega? Nem Tanto...

(Raymundo Silveira)

- Acabo de sair duma briga feia. Quase terminava no tapa...

- Com quem?

- Ora, com quem poderia ter sido? Comigo mesmo.

- Tá ficando doido?

- Negativo. Acontece que conversamos todo dia. Numa boa. E hoje resolvemos apelar pra ignorância.

- Conta essa história direito, rapaz...

- Bem, dia desses fui cair na besteira de escrevinhar outra besteira: me chamei de escritor brega da Internet. E eu não gostei. Discutíamos diariamente. Hoje a coisa quase pegou fogo. Então, eu me disse: ou tu escrevinhas outro texto esclarecendo essa história, ou não falo mais contigo. Fiquei apavorado. Se eu não falasse mais comigo, seria a mesma coisa de arrancar minha língua e entupir meus ouvidos. Por isso, resolvi me atender.

Aqui vai a escrevinhação que te prometi, tá me ouvindo... Digo, lendo? Não há demérito algum em ser brega, cara. Conforme os dicionários, quer dizer "mau gosto". Pois vê os nomes de alguns autores que foram considerados assim, no seu tempo, e hoje são verdadeiros monstros sagrados da literatura: Augusto dos Anjos ler poemas na Toca da Serpente, Fernando Pessoa ler poemas na Toca da Serpente, Lima Barreto ler trabalhos em Contos de Coral (este podia até num ser brega, mas era bebum; o que dá no mesmo), Arthur Rimbaud ler poemas na Toca da Serpente e até o velho Machado ler poemas na Toca da Serpente ler trabalhos em Contos de Coral. Duvida? Então vê o que disse dele um tal de Sílvio Romero (já ouviste falar nele?): "Esse pequeno representante do pensamento retórico e velho no Brasil é hoje o mais pernicioso enganador, que vai pervertendo a mocidade (...) O autor de Brás Cubas download do texto integral, bolorento pastel literário, assaz o conhecemos por suas obras, e ele está julgado."

Além do mais, exagerei (ramos) um pouco. Se escrevêssemos mesmo tão mal assim, não teríamos sido membros do Conselho Editorial da mais importante revista de ginecologia do país. Não teríamos textos publicados em várias outras. Não teríamos também escrito capítulos de livros técnicos. Nem seríamos citados por outros autores médicos. Já sei. Queres dizer que isto num conta porque hoje não vale mais nada. Tudo bem. Concordo. Pois vamos pra arena... Deus me livre, toc, toc toc... Quis dizer, para a literatura convencional.

Atualmente somos publicados em cerca de trinta saites. Em 2003 fomos eleito um dos dez autores mais lidos (entre 5500 outros), através de um pleito livre e soberano, realizado por um determinado portal. E hoje és um dos colunistas (certo, interino, mas colunista) do saite de literatura, de língua portuguesa, mais importante da Internet. O que tu tá querendo mais? Tá chorando de barriga cheia, cara?

(04/06/2005)

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