- Acabo de sair duma briga feia. Quase terminava no tapa...
- Com quem?
- Ora, com quem poderia ter sido? Comigo mesmo.
- Tá ficando doido?
- Negativo. Acontece que conversamos todo dia. Numa boa. E hoje resolvemos apelar
pra ignorância.
- Conta essa história direito, rapaz...
- Bem, dia desses fui cair na besteira de escrevinhar outra besteira: me chamei
de escritor brega da Internet. E eu não gostei. Discutíamos diariamente.
Hoje a coisa quase pegou fogo. Então, eu me disse: ou tu escrevinhas
outro texto esclarecendo essa história, ou não falo mais contigo.
Fiquei apavorado. Se eu não falasse mais comigo, seria a mesma coisa
de arrancar minha língua e entupir meus ouvidos. Por isso, resolvi me
atender.
Aqui vai a escrevinhação que te prometi, tá me ouvindo...
Digo, lendo? Não há demérito algum em ser brega, cara.
Conforme os dicionários, quer dizer "mau gosto". Pois vê
os nomes de alguns autores que foram considerados assim, no seu tempo, e hoje
são verdadeiros monstros sagrados da literatura: Augusto dos Anjos , Fernando
Pessoa , Lima Barreto (este podia até num ser brega, mas era bebum; o
que dá no mesmo), Arthur Rimbaud e até o velho Machado . Duvida?
Então vê o que disse dele um tal de Sílvio Romero (já
ouviste falar nele?): "Esse pequeno representante do pensamento retórico
e velho no Brasil é hoje o mais pernicioso enganador, que vai pervertendo
a mocidade (...) O autor de Brás Cubas , bolorento pastel literário,
assaz o conhecemos por suas obras, e ele está julgado."
Além do mais, exagerei (ramos) um pouco. Se escrevêssemos mesmo
tão mal assim, não teríamos sido membros do Conselho Editorial
da mais importante revista de ginecologia do país. Não teríamos
textos publicados em várias outras. Não teríamos também
escrito capítulos de livros técnicos. Nem seríamos citados
por outros autores médicos. Já sei. Queres dizer que isto num
conta porque hoje não vale mais nada. Tudo bem. Concordo. Pois vamos
pra arena... Deus me livre, toc, toc toc... Quis dizer, para a literatura convencional.
Atualmente somos publicados em cerca de trinta saites. Em 2003 fomos eleito
um dos dez autores mais lidos (entre 5500 outros), através de um pleito
livre e soberano, realizado por um determinado portal. E hoje és um dos
colunistas (certo, interino, mas colunista) do saite de literatura, de língua
portuguesa, mais importante da Internet. O que tu tá querendo mais? Tá
chorando de barriga cheia, cara?
(04/06/2005)