A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Os Poetas São Eternos

(Raymundo Silveira)

Sempre achei que a vida humana tinha sentido, apesar de muitas opiniões contrárias e de não ser exatamente um místico. Certa vez escrevi: "Nunca Albert Einstein esteve tão coberto de razão quando declarou: "O homem que diz que sua vida não tem nenhum sentido é, não apenas um sofredor, mas também indigno de viver". A vida, portanto, tem sentido, sim! O sentido da vida é CRIAR ! Pouco importa recompensas ou castigos; felicidade ou amarguras; esperanças ou desilusões; fortuna ou penúria. Nem se esta vida é efêmera ou continua após a morte."

Penso também que a escrita é o auge do impulso criativo, e a maior recompensa de quem escreve não é dinheiro, e sim, saber que se é lido. É como se aquilo que foi tirado tão penosamente da nossa cabeça não tivesse sido em vão. Mais do que isto: sentimos que estamos conversando com o leitor e, portanto, difundindo o nosso pensamento, nossas idéias e, muitas vezes, contando parte da nossa história pessoal, não obstante nos encontremos fisicamente distantes.

Já vi alguém dizer que escrever é um ato de presunção! Talvez seja esta a minha maior motivação para fazê-lo, pelo menos ao nível do inconsciente. Por outro lado, paralelamente aos impulsos básicos próprios de todos os seres humanos, escrever é também um ato decisivo para a minha razão de viver. Quem sabe, a única maneira de me comunicar comigo mesmo. Ou o viés que encontrei a fim de me libertar dos grilhões da rotina, da angústia, dos momentos de desesperança e de outros fantasmas inerentes à condição humana.

Pode parecer cinismo, mas nunca hipocrisia: escrever e, sobretudo, editar um texto pode ser não apenas um ato de presunção, mas também de um cabotino exibicionismo. Porém isto não é, de modo algum, condenável. Primeiro porque a liberdade de expressão está garantida pela Declaração Dos Direitos Humanos. Depois, porque quem tem algo a dizer, e alguém disposto a ler, pecaria no mínimo, por omissão se se abstivesse de divulgar o seu pensamento em nome de uma falsa humildade que a ninguém beneficiaria. Pelo contrário, imagine-se um Balzac omitindo-se de escrever em nome da modéstia. Que tesouro teria sido sonegado à humanidade.

Claro que se esteve a falar, até agora, sobre escrever textos em prosa. Escrever Poesia transcende a tudo isto, mesmo porque ela nem precisa ser escrita para que exista. Poesia, longe de ser um gênero literário, é um estado de espírito. Iria ainda mais além: é um estado de espírito transcendental, sobre-humano, quase divino. Se este nosso planeta tivesse sempre de ser segmentado, dividido em castas e classes, como de fato é, o único critério para este "apartheid", a meu ver, deveria ser entre poetas e não poetas. Obviamente, não penso exatamente assim, até porque sou antes de tudo um radical defensor da igualdade entre os homens; trata-se, antes, de uma hipérbole e de uma metáfora a fim de manifestar melhor a minha admiração, o meu apreço e o meu respeito por todos os verdadeiros poetas deste mundo.

Ontem nos acenou com um "até logo mais" um grande Poeta e Amigo. Amigo não apenas de alguns, mas de todos. Embora nossa amizade tenho sido virtual, dava para sentir isto: ele era amigo de todas as pessoas. Pensando melhor, era amigo não apenas das pessoas, mas de toda a Natureza. Se o Sentido da vida é Criar, como eu penso, e se esta Criação se dá através da Poesia, a vida dos poetas é, não apenas Criativa, mas também Eterna. Por isto, pelo menos para mim, o Guido Carlos Piva não morreu, nem nunca morrerá, exatamente por causa disso - os Poetas são eternos.

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