A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Dia Internacional de Quê?

(Raymundo Silveira)

Tenho profundas razões de natureza ideológica, teórica, prática e até de caráter pessoal, para ser a favor daquilo que se convencionou chamar feminismo. Sou mais do que feminista: sou a favor de uma sociedade radicalmente matriarcal. E assim sendo, muito suspeito para escrever sobre este tema.

Escrevi alguns textos sobre o tal “Dia Internacional da Mulher” - que para mim não passa de mais uma discriminação. Porque faz supor que os outros 364 do ano são os dias dos homens. E recebi várias mensagens comentando algumas daquelas matérias. De modo especial das escritoras Elizabeth Misciasci e Luciane Makkario, que acabam de publicar o livro “Presídio de Mulheres". Por isso, senti-me no dever de voltar a me manifestar sobre o assunto.

O livro trata da “mulher violenta” e as autoras fazem questão de declarar sua imparcialidade, o que, de princípio, já vai de encontro ao meu dogma: “Não existe mulher violenta”. Chamo de “dogma” porque não tenho como comprovar isto cientificamente. Mas a meu ver, poderá existir mulher subjugada, oprimida, drogada, vítima de abusos sexuais, de homens alcoolizados e drogados, ou doentes mentais; nunca violenta.

Se considerarmos “violência” o direito, até biológico, de defesa que têm todos os seres vivos, então até as plantas merecem ser assim qualificadas. A meu ver, há uma maneira muito simples de provar, embora não utilizando o método científico, que é impossível existirem mulheres violentas. Basta consultar um livro de História. Nunca se ouviu falar de uma única mulher “Brucutu”, Caim, Gêngis Kahn, Herodes, Nero, Ivan, o terrível, Henrique VIII, Robespierre, Napoleão, Stalin, Hitler, Mussolini, Pol Pott, Idi Amin Dada, Kohmeini, Sadam Hussein, Anastacio Somoza, Papa Doc, Galltieri, Carlos, o chacal, Ströesner, Pinochet, Osama Bin Laden, George W. Bush, apenas para citar alguns homens cujos nomes me vieram à memória nestes poucos segundos.

Desde quando a espécie "Homo sapiens" - que na minha ótica é nomenclatura equivocada, pois o mais adequado seria “Mulier sapiens” - surgiu sobre a face deste planeta, todos os atos correlacionados a animalidade, estupidez, brutalidade, chacinas, holocausto, escaladas, guerras, extermínios, assaltos, tortura, barbarismo, massacre, estupros, homicídios, atrocidades, numa palavra, violência, foram sempre conseqüências exclusivas da hegemonia patriarcal.

Alguém poderia contrapor a este argumento: não poderia ser diferente porque elas sempre foram submissas e nunca detiveram esta oportunidade. Mais uma vez recorro à História, minha única parceira neste “dogma”. Detiveram, sim. Mais uma vez cito de memória: Cleópatra, Maria Teresa d'Áustria, Christina da Suécia, Maria Stuart da Escócia, Elizabeths e Vitória da Inglaterra, Maria Primeira, de Portugal, Catarina Segunda da Rússia. Há muito mais, basta consultar uma biblioteca. Mas estas bastam para corroborar meu argumento.

Todas detiveram, sob seu reinado, poder de decisão de vida e morte sobre os seus súditos. No entanto, nunca foram tiranas. Pelo contrário, da maioria dessas soberanas, a humanidade só conheceu o bem e, quando assim não foi, o dedo da interferência masculina estava lá para indicar o contrário. Dizem alguns historiadores que Catarina de Médicis instigou a "Noite de São Bartolomeu". Talvez, mas esquecem que ela governou em meio a terríveis conflitos religiosos. Mesmo assim assinou o édito de tolerância de Ambroise, deu provas de grandes qualidades políticas e se esforçou o quanto pôde para manter o equilíbrio entre católicos e protestantes.

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"La destinée de la femme et sa seule gloire sont de faire battre le coeur des hommes." "Un homme est bien fort quand il s'avoue sa faiblesse" "Les femmes sont des poêles à dessus de marbre." "La haine, comme l'amour, se nourrit des plus petites choses, tout lui va." (Honoré de Balzac)

"Pourquoi ? comment ? qui vous a vaincu, tué, renversé ? La logique de votre femme, qui n'est pas la logique d'Aristote, ni celle de Ramus, ni celle de Kant, ni celle de Condillac, ni celle de Robespierre, ni celle de Napoléon ; mais qui tient de toutes les logiques, et qu'il faut appeler la logique de toutes les femmes”(Idem)

Balzac tem toda razão! "As mulheres são como estufas com cobertura de mármore". Com efeito, sua dissimulada frieza externa, jamais reflete o calor acumulado no âmago de suas almas. Não há como falar em leviandade; é de sua índole passar da paixão mais arrebatadora para o gelo da indiferença, da noite para o dia. Suas razões, tais quais as do coração, a própria razão desconhece. Seus sentimentos afetivos variam ao sabor de seus interesses imediatos, menos como se costuma atribuir, por uma atitude volúvel, do que por um misterioso instinto de defesa.

Como se a natureza as quisesse compensar - através de um mecanismo homeostático de sobrevivência. Teria de ser assim, ou a espécie humana sucumbiria, visto serem elas a fonte reprodutora primordial. É, por assim dizer, a única defesa disponível, para resistirem a tantas e duradouras agressões. Mulheres violentas simplesmente não existem. Elas são a meiguice materializada; a ternura tangível. Quem se dispuser a afirmar o contrário não conhece nada da alma feminina, confunde emoções, ou é simplesmente um misógino. Além disto, possuem a sua própria lógica que como diz também Balzac, “não é a de Aristóteles, nem a de Ramus, nem a de Kant, nem a de Condillac, nem a de Robespierre e nem a de Napoleão. Mas a lógica que contém todas as lógicas e que foi chamada ‘lógica de todas as mulheres’.”

Bem, até aqui falou a voz do dogmático radical, do ginecologista, do feminista, daquele que se deixa levar pela emoção. Cabe agora falar a Ciência.

De acordo com as escritoras Elizabeth e Luciane, que são cientistas e se confessam neutras, ao contrário de quem escreve isto, existem no Brasil, “instituições penais femininas onde ainda se encontram muitas mulheres que não estão com suas culpas configuradas porque não têm ainda trânsito em julgado a sentença penal condenatória”(...) “Algumas terão de voltar à liberdade por total falta de elementos que comprovem a autoria e sem condições de arcarem com honorários profissionais e, por isto, vão amargando dias a fio atrás das grades”(...)

Quarenta por cento destas mulheres não deveriam estar na condição de presidiárias porque, ou os delitos são insignificantes para a severidade da aplicação das penas de restrição da liberdade ou são inocentes, ou vítimas de violências domésticas”(...)”Quando atuam no crime é em parceria com o marido ou companheiro e não encontram a fidelidade que a mulher oferece na situação inversa”(...) “Muitas sofrem o abandono da família, que acaba entregando seus filhos para o mundo, pois ficam literalmente jogados pelas ruas.”(...) “Outras crianças são geradas e nascidas no próprio cárcere”(...)

Estas são as denúncias mais graves. Mas há outras formas de iniqüidades, segundo as autoras. As detentas “não dispõem sequer de absorventes íntimos e se viram como podem”(...)”Há casos em que o marido ou companheiro é o verdadeiro autor do delito”.

São tantas e tão absurdas as injustiças denunciadas, que repugna a consciência de todos aqueles que possuem um mínimo de sensibilidade humana. Mulher nenhuma merecia isto. Mas o que elas esperavam de uma “justiça” burguesa, criada e exercida por machos burgueses?

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