Como médico, passei cerca de oito anos estudando doenças. Como
seminarista, passei três anos estudando as Escrituras Sagradas. Quase
todas as pessoas que tiveram a mesma experiência que eu tive negam existir
qualquer traço de união entre estas duas disciplinas. Pois comigo,
como sempre, descobri que sucede o contrário. É bem verdade que
só observei apenas um ponto em comum entre as duas. Refiro-me ao perdão.
A única diferença é quanto aos efeitos. Enquanto a Sagrada
Escritura promete o Reino dos Céus para aqueles que perdoarem os seus
inimigos, a medicina promete a saúde. Em relação a esta
última, que preconiza a cura das doenças através de remédios,
é o perdão o único que apresenta perto de cem por cento
de eficácia e não possui nenhum efeito colateral.
Sei o que os leitores estão pensando. Crêem que me refiro somente
às doenças de origem emocional; as chamadas doenças nervosas.
Mas não é nada disso. Para falar apenas da minha experiência
pessoal, isto é, dos casos tratados diretamente por mim mesmo ou por
outros médicos, mas que tive a oportunidade de observar, apenas por serem
capazes de perdoar os seus inimigos, os pacientes ficaram parcial ou completamente
curados das seguintes doenças: diabete; obesidade; tuberculose; asma;
amnésia (esquecimento); hérnia de disco; enxaqueca, hérnia
do diafragma (gases, doenças do estômago); úlcera; alopécia
(quedas dos cabelos); certas doenças do coração como arritmias
e infarto; doenças da próstata, do útero, dos ovários
e, pasmem, até de câncer.
Se me propusesse a falar das doenças nervosas nem precisaria conversar
muito - quase todas têm as suas origens causadas pelos rancores - alguns
sufocados amargamente e outros externados a cada momento sob a forma de ira.
Um simples ato de perdão resolveria cerca de noventa por cento ou mais
de todas elas. Perdoar faz milagres. E milagres que podem ser comprovados na
prática todos os dias. Uma das enfermidades que mais matam no mundo inteiro
é o alcoolismo e o único tratamento que se mostrou eficaz para
ele até agora é proporcionado por uma irmandade chamada Alcoólicos
Anônimos. Esse tratamento tem por base o seguimento de doze passos que
o doente deve dar se tem mesmo vontade de abandonar o vício. Um deles
consiste em perdoar a qualquer pessoa de quem sinta mágoa. Estou aqui
torcendo a fim de que nenhum dos membros do AA - que defendem os seus benditos
doze passos com unhas e dentes, ou melhor, com almas e corações
- leia isto que estou escrevendo. Mas a verdade é que todos aqueles doze
passos poderiam ser economizados a fim de que fossem utilizados em favor de
algo mais proveitoso. A razão é muito simples. Bastaria ao alcoólatra
dar um único passo para se curar: perdoar os seus inimigos.
Certamente, quem está acostumado a ler as minhas escrevinhações
diárias estará sentindo alguma estranheza, pois este texto é
muito diferente dos outros que costumo escrever. Na verdade, ele é dedicado
a todos os meus irmãos e irmãs que vêm se digladiando através
da Internet. Muitos sentindo ódios mortais uns dos outros, às
vezes sem se dar conta do mal que estão praticando contra si próprios.
Estão todos se autodestruindo e não percebem isso. Pela segunda
vez estou sendo vítima de alguns destes tipos de rancores desde quando
comecei, há quase oito anos, a navegar por estes turbulentos "mares"
virtuais. Parece uma boa média em comparação com a freqüência
das batalhas que tenho observado no dia a dia. No meu caso específico,
não importam os motivos que geraram tanto furor. Queria apenas dizer
para todas as pessoas que me odeiam que estão perdoadas e a elas peço
também que me perdoem. Talvez existam centenas de razões para
que eu faça o que estou fazendo. Talvez até os meus estudos e
reflexões sobre o Evangelho nos tempos em que fui seminarista estejam
envolvidos nestas razões e eu não esteja sabendo disto. Mas, como
sempre, não me sentiria bem se não dissesse a verdade - a única
motivação consciente que me levou a escrever este texto foi de
natureza medicinal. Por outras palavras, eu perdoei a todos vocês apenas
porque quero viver mais um pouco.