Muitas pessoas estranham e me perguntam o motivo destas minhas escrevinhações
compulsivas, quando comparadas com as dos demais autores. Trata-se de um segredo.
Ia dizendo "um segredo só meu". Será que isto, acaso,
seria uma redundância? Acho que não, afinal poderia muito bem existir
um segredo entre mim e o resto do povo. Ou, pelo menos, entre mim e... Ou não?
Bem, o comentário sobre este impasse ficará para a próxima
escrevinhação.
Hoje amanheci com vontade de revelar este segredo, mas ainda estou em dúvida.
Daqui para o final deste texto decidirei, mas aviso desde já que quem não
tiver paciência de esperar e correr logo para o final a fim de saber em
que consiste este segredo, sem antes haver lido o texto inteiro, sentirá
uma grande decepção, porque tudo estará sujeito ao que encontrará
nas suas entrelinhas. Dependerá também do grau de inteligência,
da perspicácia e da capacidade de interpretação do leitor.
Antes, tentarei responder a primeira parte da questão - por que
escrevo?. Depois, obviamente, a segunda - compulsivamente?.
Vamos lá. Para mim, escrever é uma conversa comigo mesmo que, posteriormente,
passarei ao leitor e, caso este goste da minha conversa, me sentirei poderoso,
prestigiado e cheio de posses. Não se trata do poder, do prestígio
e nem das posses convencionais. Sinto que o meu trabalho foi útil; que
aquilo tão penosamente espremido da minha cabeça não foi
em vão porque tornou alguém feliz ou, no mínimo, interessado
no que tinha a dizer. Ademais, a escrita é uma das melhores terapias para
combater minhas dores existenciais. Então, o poder, o prestígio
e as posses que adquiro ao escrevinhar, são quanto a mim mesmo. Ou seja,
posso sobre mim mesmo, sinto prestigio perante mim mesmo e, finalmente,
possuo a mim mesmo. A meu ver, maior triunfo, maior realização,
maior gratificação do que isto não poderiam existir. A sensação
de liberdade quando termino de escrever um texto do qual gostei é indescritível.
Só há, no meu entender, um prazer maior do que este: é aquele
proporcionado pelo amor, sobretudo o amor físico. Mas o prazer de escrever
é mais duradouro e vai além daquele porque transcende às
sensações físicas.
Mas, por que faço isto compulsivamente, afinal? Escutem, digo melhor, leiam
esta pequena história que tomei emprestada (ou afanei) de Esopo:
"Um Cão de Caça espantou uma Lebre para fora de sua toca, mas
depois de longa perseguição, ele parou a caçada.
Um Pastor de Cabras vendo-o parar, ridicularizou-o dizendo:
- Aquele pequeno animal é melhor corredor que você.
O Cão de caça, respondeu:
- Você não vê a diferença entre nós: Eu estava
correndo apenas por um jantar, mas ele, por sua Vida."
Descobriram qual é o segredo destas minhas escrevinhações
compulsivas?