A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Por que Escrevo Compulsivamente?

(Raymundo Silveira)

Muitas pessoas estranham e me perguntam o motivo destas minhas escrevinhações compulsivas, quando comparadas com as dos demais autores. Trata-se de um segredo. Ia dizendo "um segredo só meu". Será que isto, acaso, seria uma redundância? Acho que não, afinal poderia muito bem existir um segredo entre mim e o resto do povo. Ou, pelo menos, entre mim e... Ou não? Bem, o comentário sobre este impasse ficará para a próxima escrevinhação.

Hoje amanheci com vontade de revelar este segredo, mas ainda estou em dúvida. Daqui para o final deste texto decidirei, mas aviso desde já que quem não tiver paciência de esperar e correr logo para o final a fim de saber em que consiste este segredo, sem antes haver lido o texto inteiro, sentirá uma grande decepção, porque tudo estará sujeito ao que encontrará nas suas entrelinhas. Dependerá também do grau de inteligência, da perspicácia e da capacidade de interpretação do leitor.

Antes, tentarei responder a primeira parte da questão - por que escrevo?. Depois, obviamente, a segunda - compulsivamente?. Vamos lá. Para mim, escrever é uma conversa comigo mesmo que, posteriormente, passarei ao leitor e, caso este goste da minha conversa, me sentirei poderoso, prestigiado e cheio de posses. Não se trata do poder, do prestígio e nem das posses convencionais. Sinto que o meu trabalho foi útil; que aquilo tão penosamente espremido da minha cabeça não foi em vão porque tornou alguém feliz ou, no mínimo, interessado no que tinha a dizer. Ademais, a escrita é uma das melhores terapias para combater minhas dores existenciais. Então, o poder, o prestígio e as posses que adquiro ao escrevinhar, são quanto a mim mesmo. Ou seja, posso sobre mim mesmo, sinto prestigio perante mim mesmo e, finalmente, possuo a mim mesmo. A meu ver, maior triunfo, maior realização, maior gratificação do que isto não poderiam existir. A sensação de liberdade quando termino de escrever um texto do qual gostei é indescritível. Só há, no meu entender, um prazer maior do que este: é aquele proporcionado pelo amor, sobretudo o amor físico. Mas o prazer de escrever é mais duradouro e vai além daquele porque transcende às sensações físicas.

Mas, por que faço isto compulsivamente, afinal? Escutem, digo melhor, leiam esta pequena história que tomei emprestada (ou afanei) de Esopo:

"Um Cão de Caça espantou uma Lebre para fora de sua toca, mas depois de longa perseguição, ele parou a caçada.

Um Pastor de Cabras vendo-o parar, ridicularizou-o dizendo:

- Aquele pequeno animal é melhor corredor que você.

O Cão de caça, respondeu:

- Você não vê a diferença entre nós: Eu estava correndo apenas por um jantar, mas ele, por sua Vida."

Descobriram qual é o segredo destas minhas escrevinhações compulsivas?

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente