A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Sobre Mulheres

(Raymundo Silveira)

A cada dia que Deus me dá amo uma mulher diferente. Talvez seja algum sintoma de um distúrbio grave da minha personalidade, quem sabe. Jamais seria, portanto um monógamo. Todavia, aquelas e aqueles que me vêem escrever assim talvez me julguem um leviano, um mulherengo. Posso garantir que não existe o menor laivo de leviandade nesta declaração. Quanto a mulherengo, não sei. Se levar em consideração o que dizem os dicionários estou absolutamente convicto que não o sou. A minha atração por mulheres faz parte da minha personalidade desde que me entendo por gente. O único detalhe que posso garantir é que não se trata de nada lúbrico ou sensual, embora estes adjetivos não possam estar definitivamente afastados.

A minha atração por mulheres se reflete em todas elas. Desde a menininha que estou ajudando a nascer, às velhinhas quase centenárias que vi morrer. Muitas das minhas amigas discordam da minha idéia fixa de que as mulheres são os seres mais perfeitos da natureza. Quando cito exemplos de tiranos e assassinos da história, muitas alegam que elas também seriam assim se tivessem tido a mesma oportunidade. Discordo completamente. Há muitos exemplos de soberanas que tiveram a mesma oportunidade de praticar um holocausto, um massacre no Camboja, ou uma invasão à toa de um país soberano, mas nunca o fizeram. Algumas citaram até a Margareth Tatcher como exemplo. Concordo em que ela foi uma egoísta, ajudou a instalar a política de globalização da miséria e a da concentração de riquezas nas mãos de uns poucos. Mas, daí a ser uma sanguinária, uma dona do mundo, uma "eu sou o mais forte por isto faço o que quero; invado o país que eu quiser e quem achar ruim que dê um jeito", há uma distância astronômica.

Quando freqüentava as salas de bate-papo do UOL, era capaz de identificar, em poucos minutos de chat, o verdadeiro sexo de algumas mulheres que se disfarçavam de homens e vice-versa. Este é um detalhe absolutamente intuitivo do meu caráter. Não seria capaz de fornecer, portanto, nenhuma pista quanto a esta peculiaridade do meu comportamento. Sinto, portanto, o "perfume de mulher" até na mais remota virtualidade. Há quatro anos navego nesta Internet. Não posso dizer que nunca fui vítima de uma agressão feminina. Fui, sim. Foram tão raras as ocasiões, que tenho todas gravadas no HD da minha memória. Não chegam sequer a meia dúzia. Porém, nenhuma foi gratuita; nenhuma partiu espontaneamente. Todas elas foram sempre em revide a alguma grosseria que eu - como homem - pratiquei consciente ou inconscientemente.

Tenho observado um fenômeno interessante. Mesmo aquelas mulheres que, movidas Deus sabe lá por quê, a quererem imitar a violência masculina, nunca foram capazes de pôr em prática os seus impulsos. Deve, portanto, existir algum hormônio ou outra substância química qualquer antimaldade, circulando no sangue de cada exemplar do sexo feminino. Chego mesmo a me arriscar a sugerir que tal substância deveria ser tão minuciosamente pesquisada, e posteriormente, isolada, quanto aquelas drogas que curariam o câncer ou a AIDS, a fim de ser injetada na veia dos trogloditas que se acham os senhores absolutos do mundo, das outras pessoas e da verdade.

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