A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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O Maior Prazer Não É Aquele

(Raymundo Silveira)

O máximo prazer que um homem pode experimentar nesta vida não é o próprio gozo, mas levar a sua fêmea a gozar. Ele transcende as sensações físicas do seu orgasmo e as envolve numa atmosfera de delícias tais que todas as emoções boas possíveis e até aquelas que a sua imaginação nem pode alcançar, por mais fértil que ela seja, se tornam insuperáveis, incríveis, diria que quase sobre-humanas. Penso mesmo que, se alguém pretendesse transmitir a outrem um esboço das venturas do Paraíso, nunca encontraria outro padrão mais adequado a que comparar.

A imagem da fêmea num orgasmo profundo é algo que mobiliza o âmago de todas as emoções do parceiro, pois este reconhece que está sendo o responsável por aquele transe e não há maior bem-estar possível de existir nesta vida do que dar prazer. Os presentes que se dão a alguém pelo aniversário, pelo Natal, pela Páscoa, por qualquer outra data comemorativa, por exemplo, trazem mais alegria a quem os entrega do que a quem os aceita. Quando doamos algo que é valorizado por quem o recebe e constatamos que a nossa doação tornou o outro feliz, nossa auto-estima se sobrepõe a qualquer outro sentimento. Do mesmo modo, quando recebemos um presente de uma pessoa de quem gostamos, este, por mais insignificante que seja o seu valor, nos comove e fascina, mas quem sentiu a maior emoção foi quem o ofertou. Porém, no ato do amor físico não damos presentes, pois aquilo que doamos somos nós mesmos e não existe uma prova de amor maior do quer nos entregar, sem limites, ao ser amado.

Experimente oferecer flores a uma mulher - um mimo aparentemente insignificante e tão pouco dispendioso - e verifique o que acontece. O prazer, a gratidão e a felicidade dela emanam de todos os poros e aquilo nada mais representa do que um símbolo do êxtase orgástico; não é à toa que as flores são os órgãos genitais das plantas. Para a mulher que recebe de alguém que ama, um ramalhete, uma corbelha, um buquê ou uma simples e solitária rosa vermelha, a emoção é tão intensa que ela não consegue disfarçar, e este mesmo prazer é devolvido com uma intensidade milhares de vezes maior para quem proporcionou aquela felicidade. Nesta oração de amor, o sujeito é e se sente mais importante, mais valorizado, mais feliz do que todos os objetos da sua ação. Se o simples e, aparentemente banal, ato de oferecer flores a uma pessoa a quem amamos nos faz felizes, imagine-se proporcionar o maior prazer físico que alguém é capaz de sentir.

Levar uma mulher a um orgasmo intenso, múltiplo, profundo - ou vice-versa - torna o agente que o gerou mais confiante em si mesmo, mais seguro do seu desempenho amoroso, mais ciente da sua capacidade de doar (e de receber) intensas emoções e, portanto, mais feliz. A sensação de se levar uma mulher ás culminâncias de um transe orgástico jamais poderia ser descrita através de palavras. Para alguns, este é o verdadeiro amor entre um homem e uma mulher, pois é o único que não pede, mas doa; não exige reciprocidade; não se preocupa com o próprio prazer; por isto, ele (ou ela) não hesita diante de qualquer obstáculo.

Pouquíssimos jovens da minha geração tiveram a felicidade de experimentar as delícias deste paraíso, pois naquele tempo o máximo que se conseguia era pôr nas coxas; além disto, era tudo feito na carreira, com boca na boca, mas o olho direito no da parceira e o esquerdo na porta vigiando se vinha alguém; enquanto uma das mãos acariciava um seio, a outra cuidava da braguilha; um pensamento estava na cabeça de baixo, onde a vontade superava qualquer pavor, e outro na de cima, precavendo-se contra as conseqüências trágicas diante de um eventual flagrante delito. Raramente, portanto, havia penetração, mas quando esta acontecia não se precisava fazer qualquer esforço porque a rigidez era tamanha que aquela boca sedosa, macia, fresca e aveludada como as pétalas de uma rosa, se encarregava de sugar tudo para dentro dela. O próprio gozo, o jovem adolescente, às vezes, até poderia esquecer. Jamais o delírio daquela fêmea.

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