Existem muitas coisas estranhas na Internet. Claro que numa mídia como
esta, sem controle, sem hierarquia, sem administração, só
poderia ser assim mesmo - uma autêntica anarquia. Tudo bem! Isto tem o
seu lado ruim, mas o prato da balança prejuízo/benefício
pende nitidamente para o lado deste último, creio eu. Porém, de
tudo o que me leva a buscar nesta janela para o mundo (também
na minha ótica a expressão mais feliz para definir a Web), é
a caixa de correio - a sua interface mais esquizofrênica, o que me põe
também quase neste estado. Isto é, esquizofrênico. Tenho
uma relação de amor, ódio, indiferença, desprezo
e dependência com os e-mails. Não posso passar sem eles, mas às
vezes também não os suporto. Fico nervoso quando encontro minha
caixa postal cheia, mas, por outro lado, entro em depressão quando não
encontro nada. Busco uma notícia alegre e às vezes só encontro
"espans". Embora, no meio deles, não seja raro estar escondida
uma mensagem de grande interesse a qual, quando menos espero, já deletei
sem querer. A minha caixa de correio é, ao mesmo tempo, para mim, horizonte,
zênite e abismo. O tipo de e-mail que mais me faz ficar feliz é
o meu salário que chega invariavelmente todos os dias sob a forma
de elogios inteligentes - isto não posso negar. Ontem, por exemplo, foi
dia de casa cheia, digo melhor, de caixa cheia. Por causa disto guardo
tudo com muito cuidado e carinho. Guardo também os não salários
que são as críticas negativas. Quem sabe, um dia poderão
se transformar em salários. Felizmente, a minha conta corrente
sempre esteve no azul. O saldo credor é muito maior do que cem para um.
Porém, não era precisamente sobre elogios e críticas o
que queria falar hoje, mas acerca de uma torrente de mensagens estranhas que
estão chovendo no meu "autiluque" e eu ainda estou por saber
do que se trata. Elogio, certamente, não é. Seria, portanto crítica?
E em se tratando desta última, seria construtiva ou do tipo daquelas
em que o cara (ou a cara) envia somente porque não suporta mais conviver
com aquilo que todos já conhecem e que o "Aurélio" define
como "Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Desejo violento
de possuir o dom alheio"? Não creio nesta última hipótese,
até porque os e-mails são oriundos de um "saite" famoso
por sua gentileza, cortesia e solicitude. Mesmo assim me deu vontade de especular
sobre o que significa o seu "subject". Não estranhem alguma
palavra que por acaso eu tenha aportuguesado porque, pelo menos foneticamente,
todos entendem ao que me refiro, mas o "subject" dos e-mails que estão
chovendo na minha telinha, como se fossem fragmentos de meteoros sobre um planeta,
atende pela graça de ABASAGUADEIO. Alguém que esteja lendo isto,
acaso já ouviu falar em abasaguadeio? Quanto a mim, falo e escrevo razoavelmente
o português; consigo entender o que um espanhol quer dizer, contanto que
ele escreva; queixo-me de me comunicar sofrivelmente em inglês; além
de não ser completamente tapado em francês, latim e nem mesmo em
alemão. Mas, pelo menos até ontem, nunca tinha ouvido alguém
falar em abasaguadeio. E ainda tem gente que acha estranha a palavra Inhanha
que eu ainda não sei o que significa, mas conheço uma pessoa de
renome internacional que a conhece - o professor Caio; aquele brasileiro que
ensina Etimologia na Cambridge University. Tentei me comunicar com ele hoje
pela manhã, mas só foi possível falarmos alguns minutos
porque está convalescendo de um enfarte que deu lá nele. Mesmo
assim, houve tempo para escutá-lo dizer de lá do outro lado do
Atlântico: "Não! Nunca ouvi falar em tal palavra, todavia..."
Neste instante a ligação caiu e eu não quis retornar devido
ao seu estado de saúde.
Mas, o que seria mesmo ABASAGUADEIO? Continuo a me interrogar. Não faço
a menor idéia quando busco possíveis raízes etimológicas.
Já fiz de tudo - fui à "Britannica", ao "Google",
ao "Altavista" e a todos os grandes "saites" de busca da
Internet. Fiz tentativas ao acaso. Pensei: Aba (de chapéu); Sa, de (Mem
de Sá); Água (de água mesmo). Mas quando chega em Deio
eu misturo tudo e não sai nada. Já deletei, sem nenhum exagero,
mais de duzentos abasaguadeios. Agora mesmo interrompi esta escrevinhação
e fui lá no "autiluque". Pois podem acreditar, já há
outros duzentos. Se pelo menos eu soubesse o que significa abasaguadeio não
me importaria de ficar o dia todo desabasaguadeando-os, mesmo porque hoje é
Domingo e não tenho nada para fazer mesmo. Mas, ficar o dia inteiro jogando
fora abasaguadeios é muito pior do que aquela história do tonel
das moças gregas - cujo apelido esqueci agora - que foram submetidas
ao castigo de transportar um líquido num tonel furado embaixo. Pelo menos
elas sabiam o que "não transportavam" - Água. Mas, abasaguadeio...?
É meio muito, não?