Catanduva. Cidade do interior de São Paulo. Baladas ao cair da tarde,
Roberto Carlos, música italiana, twist, hully-gully. Ray Conniff, obrigatório.
Os "dj´s" faziam o maior suspense para deixar rolar as músicas
da orquestra. Ninguém ficava sem dançar.
"O Candelabro Italiano", filme do ano. Todas as mulheres ficaram enlevadas.
"Al di la" estourava nas paradas. As meninas achavam Troy Donahue
um gato. Suzanne Pleshette era tudo o que cada uma queria ser.
Os filmes westerns estavam na moda e John Wayne era o grande herói.
Cada soco, um nocaute. E o chapéu nem se mexia. Mas ninguém se
importava com essas imperfeições técnicas. O que valia
era o enredo, a diversão.
O primeiro namorado. Beijos roubados no cinema. Coração batendo
acelerado ao ver seu amor passar. O footing. Ridículo, pensando
hoje. Dá pra imaginar uma legião de moças passeando de
braços dados em volta de uma praça, enquanto os moços ficavam
parados, só assistindo? Inimaginável! Mas assim começavam
quase todos os namoros. No footing da praça.
O pipoqueiro sabia quem namorava quem e dava dicas se "ele" ou "ela"
já haviam passado por ali. E, com isso, ia vendendo sua pipoca com pimenta.
E as famosas enquetes? Circulavam tanto quanto as sofisticadas agendas atuais.
Era pura emoção! "O que será que ele vai responder?".
Ansiedades a mil!
Carnaval! Cheiro de carnaval era cheiro de lança-perfume. Época
inocente, em que o lança-perfume era mesmo só pra perfumar o carnaval.
Certamente, alguns já conheciam seus outros efeitos, mas guardavam segredo.
Óculos de plástico para se proteger dos engraçadinhos que
fulminavam os olhos dos distraídos com o jato do lança-perfume.
Fantasias de cetim. Matinês nos clubes. Chuva de confetes e serpentinas.
Vestido tubinho, vestidos de brocado nos bailes de formatura. Sorvete com coca-cola.
O bambolê. Tudo superfashion. A primeira fotonovela de amor. Tardes
de domingo na porta do cinema. A garotada trocando gibis. Estratégias
para distrair o porteiro do cinema e entrar nas sessões de filmes proibidos
para menores de 18 anos.
Desfile de 7 de Setembro. As meninas mais bonitas e desenvoltas eram escolhidas
para balizas. As demais, para porta-bandeira ou, simplesmente, participar da
caminhada. Desfile interminável. Sol do meio-dia. Pensamento longe, na
comida da mãe, no sorvete do "Café da Esquina". Tempo
de sonhos. Sonhos simples, realizáveis.
Amigos de infância. Amigos da pré-adolescência. Saudade...
Às vezes, sente-se vontade, até mesmo curiosidade, de rever os
amigos dessa época inocente. Mas o tempo, as experiências vividas,
felizes ou infelizes, deixam marcas. Todos mudamos. Física e interiormente.
Então, ao mesmo tempo que se anseia por um reencontro, existe o medo
de que essa volta ao passado seja frustrante e quebre a magia das lembranças.
Assim, continuamos nossas vidas, deixando ao passado o que é dele e vivendo
apenas o presente, talvez não tão mágico, porque é
real, porém o único tempo que temos para, de fato, viver.