Ele vinha todo dia bem cedinho tomar seu café da manhã, que era
um simples copo de mel. Devia ser campeão olímpico porque, quando
passava por mim, ele voava, não andava.
Era um cara fiel e metódico. Vinha sempre na mesma hora e tomava seu
mel no mesmo lugar. Devia ser solteiro, pois costumava comer sozinho. Mas era
dissimulado, o danadinho. No fundo, sabia que eu o estava observando da janela,
mas se fazia de desentendido e continuava tomando sua refeição
matutina.
Uma coisa não se podia negar: ele era muito bonito e demonstrava ter
um alto astral. Dava até gosto vê-lo tomar velozmente sua imutável
porção de mel. Será que era alguma dieta nova, como tantas
que surgem por aí? Fiquei pensando, mas não consegui chegar a
uma conclusão.
O interessante era que, com tanto mel, conseguia ser esbelto, com tudo no lugar,
saradíssimo. Meio sem siso, cheguei a pensar em abordá-lo qualquer
dia e pedir o telefone do seu nutricionista. Bem que eu estava precisando...
Antes de ir embora, ele me lançava um olharzinho matreiro e saía
zunindo. Desconfio que estava me azarando.
Só depois disso é que eu encerrava minha contemplação
diária. No dia seguinte, eu estaria ali, firme, no mesmo horário,
esperando para admirar, mais uma vez, aquele simpático beija-flor...
(27/11/2003)