A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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ALMA E NATUREZA

(Dorcila Garcia)

O entardecer me inquieta. Quando o sol vai se pondo e a sombra começa a cobrir tudo com seu manto, sinto um desconforto no peito, uma dorzinha afiada que até machuca. Um ansiar persistente, que perdura até o cair da noite. Só quando o céu se tinge de azul escuro é que meu coração se acalma.

Dias de chuva fina e constante me entristecem. É como se minha alma fosse uma criança assustada, com medo de fantasmas e brumas. Quando nuvens carregadas começam a cobrir o céu, suspiros profundos, doridos, inflam meu peito e fico calada, pensativa, imaginando de onde vem tanta melancolia.

Meu coração se alegra com as chuvas de verão. "Chuva e sol, casamento de espanhol..." é o refrão que aprendi em criança. Eu saía a brincar na chuva, incrivelmente feliz. Eram chuvas abençoadas. Não causavam a destruição que hoje provocam. Havia terra para absorver aquelas águas bravias. Nas chuvas de verão, os pingos prateados caem obliquamente, formando enxurradas que me levam a imaginar que, em suas águas turbulentas, navegam tesouros escondidos.

Cheiro de terra molhada. Cheiro de grama recém-cortada. Que brinde aos meus pulmões! Aromas de delícias! Trazem-me à memória alegrias e prazeres que não sei divisar claramente de que época vêm, nem o que representam, mas que me enchem o coração de felicidade. Povoam-me o pensamento pequenas reinações que, uma a uma, vão afagando com doces lembranças esta alma que baila, embevecida, a dança da natureza.

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