O entardecer me inquieta. Quando o sol vai se pondo e a sombra começa
a cobrir tudo com seu manto, sinto um desconforto no peito, uma dorzinha afiada
que até machuca. Um ansiar persistente, que perdura até o cair
da noite. Só quando o céu se tinge de azul escuro é que
meu coração se acalma.
Dias de chuva fina e constante me entristecem. É como se minha alma fosse
uma criança assustada, com medo de fantasmas e brumas. Quando nuvens
carregadas começam a cobrir o céu, suspiros profundos, doridos,
inflam meu peito e fico calada, pensativa, imaginando de onde vem tanta melancolia.
Meu coração se alegra com as chuvas de verão. "Chuva
e sol, casamento de espanhol..." é o refrão que aprendi em
criança. Eu saía a brincar na chuva, incrivelmente feliz. Eram
chuvas abençoadas. Não causavam a destruição que
hoje provocam. Havia terra para absorver aquelas águas bravias. Nas chuvas
de verão, os pingos prateados caem obliquamente, formando enxurradas
que me levam a imaginar que, em suas águas turbulentas, navegam tesouros
escondidos.
Cheiro de terra molhada. Cheiro de grama recém-cortada. Que brinde aos
meus pulmões! Aromas de delícias! Trazem-me à memória
alegrias e prazeres que não sei divisar claramente de que época
vêm, nem o que representam, mas que me enchem o coração
de felicidade. Povoam-me o pensamento pequenas reinações que,
uma a uma, vão afagando com doces lembranças esta alma que baila,
embevecida, a dança da natureza.