A Garganta da Serpente
Veneno Crônico crônicas
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Abril, juventude e viço

(Maurilio Tadeu de Campos)

Abril, denominação que identifica o quarto mês do ano, possui inúmeros significados, entre eles aperilis, que a crendice diz ser o mês do ano em que a terra se abre para receber as sementes. É um mês que nos remete às lembranças de fatos e vultos da história, com muitas datas a comemorar. São os trinta dias mais harmoniosos do ano, por onde passam Áries e Touro, dois fortes signos do zodíaco.

No início de abril lembramos a saúde, no seu sétimo dia, tão imprescindível para a sobrevivência da espécie humana. Também em abril a tradição católica recorda a paixão e a ressurreição de Cristo, no terceiro dia e, dois dias depois, a Páscoa e suas inúmeras expectativas de vidas em renascimento.

A união do Continente Americano também é relembrada em abril, no décimo-quarto dia e, para não deixar em aberto o significado de abril, logo no dia 15, Dia da Conservação do Solo, louvamos a terra que recebe a vida contida nas sementes e as faz brotar e prover o Planeta de mais vida.

A literatura é lembrada no dia 18, Dia Nacional do Livro Infantil, justa homenagem a Monteiro Lobato, crítico perspicaz que, derramando no papel seus personagens pretensamente inocentes, nos deixou inúmeras lições de cidadania, de civismo e de respeito às diferenças de opiniões.

No dia 19 desse mês de juventude e viço, o índio é exaltado, habitante primitivo da Terra de Vera Cruz, ser que convive em harmonia com a natureza, o real filho da Terra Brasilis dominada no mesmo abril, ao vigésimo-segundo dia, pelo Almirante Pedro Álvares de Gouveia Cabral, capitão-mór de uma esquadra de treze caravelas, proclamando ter trazido à nova terra "a luz da civilização"; o inesquecível descobridor foi logo esquecido, mas relembrado, mais de um século após seu grande feito, quando já não lhe restavam mais do que as cinzas.

O mês de abril ainda nos traz a figura do mártir Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, que almejava a "liberdade, ainda que tardia", mas foi preso, enforcado e esquartejado e as suas terras salgadas para que nada mais ali nascesse; seus descendentes foram considerados infames até a segunda geração. Só depois, muito tempo depois, Tiradentes recebeu o codinome de Defensor Perpétuo do Brasil.

O sorriso, marca registrada do dinamismo e do tino administrativo de Juscelino Kubitschek também pode ser percebido em abril, mês em que ele perpetuou um sonho: levar a Capital do País para o Planalto Central. E conseguiu! "Cinquenta anos em cinco", era seu lema. Naquele 21 de abril do ano de 1960, sob o sol inclemente de Brasília, as atenções estavam, todas, voltadas para o que de mais arrojado pode fazer, através das mãos e das ideias geniais de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, construindo uma cidade moderna, fria, em forma de avião, algo inédito na América Tropical do Século XX, cenário de venturas e de tantas aventuras, palco de inúmeros atos, desde os mais emocionantes até os mais inacreditáveis.

Necessitaria, ainda, destacar outras datas do mês de abril, outras histórias, outros personagens, outras lembranças, mas não sei se poderia contemplar todas elas. Deixo, portanto, registrados os mais significativos, para que todos saibam o quanto é importante preservar a história da humanidade, a nossa identificação como seres humanos ligados ao passado, vivendo o presente e nos preparando para o futuro com mais qualidade de vida, quando predissemos poder viver numa atmosfera mais saudável, repleta de harmonia, de amor, solidariedade, onde prevaleça o humanitarismo, ainda ausente na convivência entre os seres.

(publicado no Jornal A Tribuna, de Santos, coluna "Tribuna Livre")

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