A Garganta da Serpente
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Saudade dos Antigos Carnavais

(Maurilio Tadeu de Campos)

Entrudo. Água, farinha, ovos e limões de cheiro, jogados pelas pessoas, umas nas outras, nas ruas, caracterizavam essa folia que acontecia no período anterior a quaresma, em clima de alegria e de manifestações consideradas mais intensas, onde a liberdade era geral, caracterizando antigos carnavais.

O entrudo chegou ao Brasil ainda no século XVII e foi se adaptando às peculiaridades da sociedade brasileira. Embora tenha mantido suas características essenciais, ficou mais organizado e manteve-se como uma festa popular, hoje denominada simplesmente Carnaval, que acontece anualmente por todo o País.

Ainda no final do século XIX, toda uma série e grupos carnavalescos ocupavam as ruas do Rio de Janeiro. Nessa época, esses grupos eram chamados indiscriminadamente de cordões, ranchos ou blocos. Em 1890, Chiquinha Gonzaga compôs a primeira música especificamente para o carnaval, "Ô Abre Alas", para o cordão Rosas de Ouro.

Os foliões saiam às ruas fantasiados, usando máscaras e disfarces inspirados nos bailes de máscaras parisienses. As fantasias mais tradicionais e ainda usadas até hoje são as de Pierrô, Arlequim e Colombina, originárias da commedia dell'arte.

No século XX, o carnaval foi crescendo e tornando-se cada vez mais popular. Esse crescimento ocorreu com a ajuda das marchinhas carnavalescas. Novas a antigas marchinhas alegravam os carnavais brasileiros, composições muito bem elaboradas, interpretadas por cantores de primeira linha. O público aguardava, ansioso, a cada ano, novas marchinhas, executadas pelas emissoras de rádio e que eram logo decoradas, para serem cantadas nos cordões e blocos, e nos salões.

A primeira escola de samba surgiu no Rio de Janeiro e chamava-se "Deixa Falar". Foi criada pelo sambista carioca Ismael Silva. Anos mais tarde a Deixa Falar transformou-se na escola de samba Estácio de Sá. A partir daí o carnaval de rua começa a ganhar um novo formato. Surgiram novas escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para escolher a escola de samba mais bonita e animada, foram organizados os primeiros campeonatos, que permanecem até hoje, mais sofisticados. Essa tradição espalhou-se por todo o Brasil, satisfazendo regras estabelecidas pelas ligas das escolas de samba. São verdadeiras disputas para a eleição da melhor escola do ano, obedecendo a uma série de quesitos. Com o desenvolvimento vertiginoso dessas agremiações o processo de criação se especializou, gerando muitos empregos concentrados, principalmente nos chamados barracões das escolas de samba.

Além dos desfiles das escolas de samba acontecem também os desfiles de blocos e bandas, que se apresentam pelas ruas das cidades em clima descontraído, sem competição. Há também os bailes de carnaval, realizados em clubes, ou em áreas públicas abertas, com execução de músicas carnavalescas.

Santos tem forte tradição carnavalesca. Chegou a ter o melhor carnaval de rua do Brasil, onde desfilavam blocos, ranchos, cordões, corsos e escolas de samba. Semanas antes do início do carnaval, as batalhas de confete animavam os foliões. "Dona Dorotéia, Vamos Furar Aquela Onda", surgido em 1923, reunia patuscos e não patuscos na avenida da praia, que saiam em blocos no domingo que antecedia o carnaval. Na véspera, o "Bloco Agora Vai" saia nas ruas da Vila Mathias. Havia também os corsos, em carros abertos, com foliões fantasiados, jogando serpentinas e confetes ao som de marchinhas. A violência registrada a partir de 1990 determinou o final dessas manifestações alegres e ainda inocentes. Há uma tentativa de se manter os blocos carnavalescos nos bairros, como uma forma de perpetuar a tradição dos antigos carnavais. As Escolas de Samba ainda procuram reviver o carnaval santista na Passarela do Samba, atualmente montada na Zona Noroeste. Figuras como Drausio da Cruz (que emprestou seu nome à Passarela do Samba), Waldemar Esteves da Cunha (o Rei Momo com o maior reinado do Brasil), Mário Rodrigues Filho (o Carlitos santista), Eugênio Pedro Ramos (o Cabo Roque), Daniel Dias do Nascimento (o Daniel Feijoada), Cabo Laurindo, Tia Isaurinha, Neth de Lima, Naum Caetano da Silva, as Tias Clydia e Netta são exemplos de pessoas vinculadas aos antigos carnavais santistas e que servem como referência de tenacidade e luta para a realização das manifestações carnavalescas em nossa cidade, motivando os carnavalescos de hoje a manter viva essa festa popular, tão importante para a cultura nacional.

(publicado no Jornal "A Tribuna", de Santos, Brasil, edição de 19/02/2009, página A-13)

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